Ainda subia uma leve fumaça dos restos do casarão construído no século XVIII, incendiado na segunda-feira 14 de abril. Os tapumes não foram suficientes para esconder os escombros e a tristeza das quase dez mil pessoas que lotaram a praça Tiradentes, coração de Ouro Preto, e assistiram às comemorações de 21 de abril. Mas a revolta com a prefeita Mariza Xavier (PDT), pelo descaso com o patrimônio histórico da localidade, deu lugar à euforia com a chegada do presidente Lula e do governador Aécio Neves, que entregaram a Medalha da Inconfidência a cerca de 150 agraciados.

Ao contrário dos últimos quatro anos, período que o então governador Itamar Franco se digladiou com o governo FHC, a solenidade selou o
clima amistoso entre os governos federal e estadual. Lula recebeu o Grande Colar da Inconfidência. Como orador oficial, trouxe boas notícias para a cidade: o anúncio da reconstrução do casarão e o financiamento, pelo Ministério da Cultura, para a restauração de imóveis históricos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Lula também falou sobre a importância das reformas da Previdência e tributária e defendeu um Estado forte, criticando a lógica do mercado totalmente livre. “Duas idéias defendidas nas últimas décadas, como se fossem verdades incontestáveis, já revelaram sua inconsistência e estão sendo superadas em boa parte do mundo: a de que o Estado nacional deve ser mínimo e, em consequência, fraco, e a
de que tudo pode ser deixado por conta do mercado, que resolve automaticamente todos os problemas.”

O governador Aécio Neves amenizou as duras críticas que tem feito ao governo federal, que aplicou uma multa ao Estado de R$ 36 milhões, pelo não-cumprimento das metas fiscais em 2001. Ao lado de Lula, lembrou que um Estado não alcança a autonomia sem recursos. “Não nos ofende a versão de que defendemos a Inconfidência de 1789 para não pagar impostos. Os tributos só são legítimos quando consentidos”, brincou ele, que também pediu que o presidente entendesse a
franqueza de suas reivindicações.

A Grande Medalha da Inconfidência foi entregue a Lula e a mais 150 personalidades que contribuíram para o prestígio e projeção de Minas Gerais. Foram agraciados a artesã Isabel Mendes da Cunha, que, com suas bonecas de barro, projetou a arte típica do Vale do Jequitinhonha; os ministros da Fazenda, Antônio Palocci, e da Cultura, Gilberto Gil; a pediatra Zilda Arns, da Pastoral da Criança da CNBB; Viviane Senna, da Fundação Ayrton Senna; o editor e diretor responsável de ISTOÉ, Domingo Alzugaray; e o presidente e editor da Abril, Roberto Civita. Alzugaray ressaltou a importância da conscientização do eleitorado, o que muito contribuirá para o futuro da Nação. “Os políticos que estão despontando agora têm tomado cuidado para não manchar a própria imagem. Hoje, o povo brasileiro já não tolera corruptos. Quem não tiver a marca da ética e integridade está fadado ao fracasso”, afirmou o editor responsável de ISTOÉ.