06/12/2006 - 10:00
Esta história com final feliz – e real – começa em dezembro de 1954 na garagem da casa dos pais de Cecília Dale, no bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. A graciosa e esperta Cecília tinha sete anos quando sua mãe, Clarinha Jopter, pegou-a pelas mãos e, junto com seus dois irmãos, levou-a ao encantador Jardim Botânico da cidade. A tarefa: recolher galhos, pinhas e folhas secas para montar a árvore de Natal e deixar mais bonito o lar da família. A pequena recolheu vários deles. Era de longe a mais empenhada e tentava passar aos irmãos o seu entusiasmo. A lembrança ainda hoje embala os projetos profissionais dessa empresária carioca, dona da grife de artigos decorativos que leva o seu nome e o seu sobrenome. De noite feliz em noite feliz, todas marcadas por muita dedicação e talento, Cecília estabeleceu sua grife no País como um sinônimo da alegria natalina – a exemplo das árvores que dão luz, cor e vida às noites nesta época do ano.
Ter um nome tão associado à maior festa cristã traz imensa alegria para Cecília. O espírito de Natal, para os Jopters, sempre se traduziu em união e confraternização. Da decoração à ceia, tudo era feito em família na garagem do pai, sr. Mauro. Em meio a relógios antigos e móveis restaurados do século XIX, ela descobriu a paixão pelo artesanato. “Meu pai fazia a base de madeira para equilibrar a árvore. Eu e meus irmãos brincávamos de decorá-la. Dos três filhos, mamãe dizia que eu era a que levava jeito para a coisa. Parece que ela tinha razão”, comenta.
Aos 59 anos, Cecília Dale diz acreditar em Papai Noel. Não poderia ser diferente – é o período mais pródigo de seu trabalho. O faturamento de sua empresa cresce cerca de 50% no Natal. Quando chega essa fase, suas seis lojas em São Paulo, Estado para onde se mudou em 1977 com o marido, costumam vender 600 guirlandas ao custo médio de R$ 300 cada. Tudo em 45 dias. É verdade que, ao longo do ano, clientes do Brasil inteiro entram no site ou visitam um de seus pontos-de-venda para saber o que usar na decoração da casa. Mas no Natal ela é rainha. “Este ano pensei em uma festa lúdica, com brinquedos de madeira do meu tempo de criança”, afirma. Em detalhes: muitos enfeites de pano e cores quentes, para trazer aos adultos a fantasia que rodeia os sonhos dos pequenos. Entre duendes, elfos, renas e outros mimos, destacam-se suntuosas árvores que, com 1,50 m de altura e iluminação de fibra óptica, chegam a custar R$ 15 mil. Mesmo assim, são vendidas em profusão. Ao todo, são 2,7 mil em média por ano. O pinheiro mais barato, sem enfeite, sai por R$ 400. Para quem não quer ter trabalho, Cecília disponibiliza uma equipe especializada para montar em casa a árvore e os demais enfeites. O serviço dura cerca de duas horas e custa a partir de R$ 525. Outro item que se destaca nas lojas é um Papai Noel em tamanho natural, ao custo de R$ 5 mil.
Depois de se preocupar com a festa dos outros, a dama do Natal irá comandar a produção da sua própria festa. “Neste ano, colocarei na árvore pacotes e brinquedos gigantes. Quero transformar meus parentes em crianças. Por isso vou ‘encolhê-los’, aumentando os brinquedos”, revela. Além disso, encherá o lar de amarelo, azul e vermelho na decoração. O jantar da meia-noite dos Dales será ousado. Cecília não gosta de ceias convencionais. Prefere ser criativa até na cozinha. Serão servidos bobó de camarão, presunto, rosbife e rabanada. Para a sobremesa, uma torta de nozes, a grande vedete da noite. “É receita da vovó. Ela me ensinou a colocar uma colher de farinha de rosca no lugar da farinha de trigo. Fica leve e desmancha na boca”, ensina.
Há 25 anos, Cecília começou a produzir as primeiras peças para comercialização em uma loja no elegante bairro dos Jardins, em São Paulo. Também enviava os trabalhos para outra, em Salvador. Eram delicadas cestas e bandejas de vime forradas de tecido. A propaganda boca a boca fez crescer a procura pelas cestas e bandejas artesanais. De casa, a produção foi para um ateliê e passou a atender 180 lojas de presentes. Mais tarde, em 1984, com a diversificação dos produtos, veio a primeira loja própria da grife, na capital paulista. Por ali, além dos objetos criados e desenvolvidos por ela, ganharam destaque exclusivo móveis europeus e orientais.
A “fábrica de exclusividade” de Cecília Dale é variada. Atualmente suas lojas oferecem cerca de 30 mil itens, entre objetos de decoração, móveis asiáticos e acessórios para a casa. Tudo com detalhes minuciosos, uma característica da grife. Grande parte dos artigos é exclusiva, fruto de um serviço árduo de artesanato feito por mais de 20 profissionais comandados pela mente inquieta da empresária. Quando questionada sobre os números que sustentam essa produção, Cecília dispara: “Não sei quanto vendo. Sei, por exemplo, que as 600 guirlandas que produzimos recentemente já acabaram. Meu negócio é criação. Preciso ficar livre para soltar a imaginação como nos tempos de criança”, conta. Ao contrário de seus produtos, o espírito de menina diante do desafio de recolher galhos, pinhas e folhas secas não se esgota.
A marca vende 2,7 mil árvores por ano. A mais cara, com iluminação em fibra óptica, chega a R$ 15 mil. Em 45 dias, cerca de 600 guirlandas são comercializadas