06/12/2006 - 10:00
Se a mera sugestão de correr longas distâncias deixa exaurida a maioria dos mortais, a idéia de cruzar a nado trechos de 4, 5, 10, 25 e até 60 quilômetros pode parecer uma insanidade. Aos surpresos, um aviso: essa modalidade, chamada de maratona aquática ou águas abertas, é a que mais cresce no Brasil e no mundo entre as cinco reconhecidas pelo esporte. Uma das provas, a de dez mil metros, acaba de ser adotada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Valerá medalha nos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro, em 2007, e nas Olimpíadas de Pequim, no ano seguinte. No País, a mais recente manifestação de força desses corajosos foi a sexta edição da Travessia dos Fortes, realizada dias atrás na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Mais de 4,2 mil pessoas largaram para cruzar os 3,8 mil metros da prova. O carioca Luiz Lima, 28 anos, venceu pela quinta vez consecutiva, com o tempo de 38m20s. Entre as mulheres, a baiana Ana Marcela Cunha, de apenas 14 anos, conquistou o topo do pódio com 42m14s. Os dois receberam R$ 10 mil pelos feitos.
Os bons prêmios em dinheiro no circuito internacional, os investimentos pesados de patrocinadores e o contato com a natureza levaram milhares de atletas a trocar as piscinas pelo desafio dos mares, rios e lagos. “As maratonas atraíam apenas veteranos das piscinas. Hoje, jovens como a Ana Marcela abandonam a natação dos ginásios para assumir as provas abertas”, explica Arnaldo Fernandes, diretor de maratonas aquáticas da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). O crescimento foi inspirado em grande parte na popularização das grandes provas de resistência individual, como as de Capri-Napoli (Itália), Corona (Argentina) e sobretudo a mitológica travessia do Canal da Mancha, os 35 quilômetros de mar entre o Reino Unido e o continente europeu. Desde 1875, quando o capitão inglês Mathew Webb concluiu o percurso pela primeira vez, 730 pessoas tentaram atravessá-lo. Mais de 90% foram recolhidas pelo caminho.
O desafio produziu alguns heróis. A americana Gertrude Ederle foi a primeira mulher a cumprir o trecho, em agosto de 1926, aos 19 anos. E Abílio Couto, o primeiro brasileiro, em 1958. O inglês Thomas Gregory foi o mais jovem a completar o percurso, em 1988. Tinha apenas 11 anos. E George Brunstad, o mais velho: em agosto de 2004, fechou a distância do alto de seus 70 anos. O rei da Mancha é o inglês Mike Read, com 33 travessias. A rainha, a também inglesa Alison Streeter, com 37. O inglês Henry Sullivan é o dono do troféu lentidão. Precisou de mais de um dia (precisamente de 26h50 min) para concluir o feito. E o escocês Jabez Wollfe dificilmente perderá o “troféu azar”. Ele tentou atravessar 22 vezes – e falhou em todas. Na última delas, em 1911, parou a metros do final. Infelizmente, outros entraram para a história como mártires. A brasileira Renata Agondi está entre os 20 que morreram na tentativa de realizar o sonho. Em agosto de 1988, ela não resistiu às conseqüências de um erro de trajetória e aos efeitos de uma hipotermia. Hoje, a CBDA organiza todos os anos uma etapa internacional de maratona aquática em Santos, a cidade natal da nadadora. Nome: Travessia Renata Agondi. Uma homenagem bonita e justa.
10 mil metros será a distância da prova que
será olímpica nos Jogos de Pequim, em 2008