06/12/2006 - 10:00
Oscar Niemeyer, um dos mais respeitados arquitetos do mundo, já declarou que não é o ângulo reto que o atrai. O que o atrai é a curva livre e sensual, como as que encontra nas montanhas do Brasil, nos rios sinuosos, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. É com estilo poético que ele descreve seu trabalho, admirado de canto a canto do País. Agora, o traço do arquiteto poderá ser apreciado muito além das obras que ajudaram a construir seu nome. A partir de janeiro, as linhas curvas de Niemeyer poderão ser conferidas em móveis desenhados por ele e por sua filha, a designer Anna Maria, em uma loja exclusiva em São Paulo. Em 2007, o Rio de Janeiro também terá uma casa que venderá unicamente o mobiliário com a assinatura do mestre da arquitetura.
A linha contempla 12 móveis, entre eles uma cadeira de balanço, um sofá, uma poltrona e uma mesa de jantar, todos com a estrutura de madeira ebanizada, negra. É uma inconfundível marca de Niemeyer no mobiliário. Assim como a palhinha para revestir encostos e assentos e o couro natural que abriga os estofados. Claro também que a ousadia das formas é mais um elemento a se destacar no conjunto. Os apoios são reduzidos justamente para valorizar as curvas, o traço característico de Niemeyer. A cadeira de balanço, por exemplo, é cheia de linhas sinuosas que saltam aos olhos (para isso, foi elaborada em madeira prensada, que permite trabalhar com desenhos mais maleáveis). E a mesa de jantar, o único móvel da linha feito em parceria com o italiano Frederico Motterie, tem um tampo de vidro que não fica exatamente no centro. “Dá a impressão de que ele vai cair”, observa Nélson Kiyoshi Toshimitsu, diretor-geral da Office Brasil, empresa que passa a fabricar as peças inicialmente de modo artesanal e depois em escala industrial.
É importante ressaltar que os móveis foram criados na década de 70. Àquela altura, Niemeyer já era amplamente reconhecido pelas obras monumentais. Então, de súbito, teve uma inspiração e decidiu desenhar algumas peças em madeira. Uma parte desses móveis decora o interior do Palácio da Alvorada, em Brasília. Que ninguém imagine que foi uma encomenda. “Não é uma tendência dele trabalhar desse modo. Ele teve um estalo e começou a fazer”, reforça Allan Guerra, superintendente da Fundação Oscar Niemeyer, entidade que, entre outras atribuições, administra os negócios envolvendo o mobiliário. Desenvolver uma idéia de relance faz parte do ofício. E também planejar algo extra dentro do projeto arquitetônico. Algo que supere o desenho dos ambientes. Como Niemeyer bem disse: “Quando um arquiteto projeta um edifício (…), ele vê a planta (…) como obra já construída. Em transe, se o projeto o apaixona, ele penetra curioso, a examinar formas e espaços livres, a considerar os locais onde um pensou um painel mural, uma escultura ou simplesmente um desenho em preto-e-branco”.
Uma curiosidade é que os móveis de Niemeyer acabaram mais conhecidos entre estrangeiros. Não foram poucos os admiradores internacionais do mestre – que fará 99 anos no próximo dia 15 – que fizeram encomendas das peças. Há uma boa procura no Exterior. Os mais interessados são arquitetos europeus. Uma parcela considerável dos pedidos parte da França, onde Niemeyer atuou na década de 70. No Brasil, porém, o lado designer do arquiteto ainda era pouco difundido. Como eram produzidos de forma muito artesanal, não se conseguia estabelecer um prazo para a entrega das encomendas. Por isso, a fundação resolveu buscar um parceiro para elaborar um plano mais ambicioso. “Retomar esse trabalho nos dará retorno financeiro”, emenda Guerra.
O acordo com a Office Brasil foi assinado em outubro e vale para o mundo inteiro. Em janeiro, ela abre a primeira loja exclusiva, em Pinheiros, bairro paulistano que abriga uma rua notória por vender móveis. Ela estará encarregada também de distribuir as peças para o resto do País. O segundo endereço da Office Brasil deverá ficar na zona sul do Rio. Essas casas ainda comercializarão as peças sob encomenda. A previsão é que os pedidos sejam entregues em 30 dias. Mas para aumentar a escala a empresa está investindo R$ 1 milhão para erguer uma fábrica em Itapira, no interior de São Paulo, que ficará encarregada da produção dos móveis. Com isso, a idéia é atingir perto de 600 unidades por mês. “Há uma demanda reprimida e já tem gente atrás de informações”, revela o diretor Toshimitsu.
Por enquanto, os preços não estão definidos. No mercado, comenta-se que a cadeira de balanço, claramente um dos chamarizes da coleção, poderá ficar em R$ 16 mil. As demais peças podem sair por R$ 6 mil. O que se sabe de concreto é que todos os móveis terão um certificado de autenticidade conferido pela fundação. O objetivo é evitar as falsificações. Quem investir nesse maravilhoso mobiliário poderá dizer, com orgulho, que tem um autêntico Niemeyer em casa.