23/04/2008 - 10:00
SOLTO Quinta-feira 21: Cabrini deixa a delegacia onde ficou preso dois dias
Detido na terça-feira 15 na periferia de São Paulo sob a acusação de tráfico de drogas, o jornalista Roberto Cabrini passou dois dias preso em uma delegacia. Depois de cobrir seis guerras, cinco Olimpíadas e cinco Copas, tenta agora desvendar uma história na qual ele é a notícia. O fato começa antes de a polícia encontrar dez papelotes (8 gramas) de cocaína no carro onde ele e a comerciante Nadir Dias, 50 anos, conversavam. Em maio de 2006, Cabrini levou ao ar na Bandeirantes uma entrevista por telefone com o preso Marcos Camacho, o Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Autoridades dizem que a voz não era do criminoso. Um inquérito de falsidade ideológica foi instaurado contra o jornalista, hoje na Record. Segundo ele, Nadir, que fazia a ponte com o PCC, disse ter um depoimento de Marcola confirmando a autenticidade da entrevista em DVDs. No dia de sua prisão, Cabrini rumou em seu Citroën C5 para o Jardim Ângela, região violenta da periferia, e se encontrou com Nadir. Ela pediu para o jornalista dar uma volta e estacionar em outro local. No trajeto, ela dizia ao celular, segundo Renato Martins, advogado de Cabrini: "Estou em tal lugar, perto da padaria. Me pegue lá."
"Ao encostar o carro, a polícia apareceu em pouco tempo e foi direto no porta-objetos do lado da Nadir, onde estava a cocaína", conta Martins. "E deram voz de prisão a ela." Até então testemunha, Cabrini recebeu voz de prisão na delegacia. O delegado mostrou a ele imagens contidas em um pen drive que estava na bolsa de Nadir, em que o jornalista aparece cheirando cocaína. "Se o vídeo já não estava antes na delegacia, o fato de ela carregá- lo é indício de extorsão. E é estranho ela ser solta e ele ficar preso", afirma o advogado.
De acordo com Martins, Cabrini, familiares dele e membros de sua equipe na Bandeirantes vinham sendo ameaçados por Nadir, que assumiu ter feito o vídeo às escondidas. Foi em um encontro na casa dela – que à polícia disse ser amante do jornalista – que Cabrini teria sido "obrigado a consumir a substância". Jornalista e fonte relataram o fato em um documento e o registraram no 4º Cartório de Osasco, em janeiro do ano passado. "Nadir estava armada no dia e pediu uma prova de que ele não a denunciaria à polícia. Cabrini consumiu para adquirir a confiança dela e preservar sua integridade", diz Martins. Mesmo sendo coagido, Cabrini não cessou o contato com Nadir até ser preso. "Quem o conhece sabe que é doidão, no sentido de ir até o fim em uma reportagem", diz um colega de profissão do jornalista.
"E é estranho ela (Nadir, foto) ser solta e ele ficar preso"
Renato Martins, advogado de Cabrini