07/04/2004 - 10:00
As obras do italiano de Treviso Nicolau Facchinetti (1824-1900) enriquecem os acervos dos mais importantes museus brasileiros e estão em praticamente todas as exposições que retratam a pintura do século XIX no Brasil, mas é a primeira vez que ganham uma exposição exclusiva, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro. Desembarcado na cidade em 1849 com pouco mais de 20 anos, onde ficou até sua morte, o pintor produziu uma extensa obra sob encomenda de nobres, barões do café e comerciantes estrangeiros. Seu detalhismo, enfatizado nas pinturas feitas à luz do amanhecer ou do entardecer, o transformou no preferido da classe abastada local, que disputava principalmente suas paisagens idílicas, coloridas com apuro.
Paisagista por definição, dando especial atenção às exóticas palmeiras tropicais, Facchinetti sempre trabalhou à margem da Academia Imperial de Belas Artes. Foi exatamente este espírito independente que fascinou os curadores da exposição, o museólogo Carlos Martins e a historiadora Valéria Piccoli. À sua época, no entanto, o artista nunca chegou a ser bem visto pela imprensa local. Diziam os críticos que seu trabalho não tinha expressividade, apesar de reconhecerem habilidade técnica. “Ele fazia muita pintura para as pessoas decorarem suas casas ou darem de presente,” justifica Valéria. Um bom exemplo é o panorama da Baía do Rio de Janeiro vista do Forte do Leme, pintada em 1872 por encomenda da princesa Isabel.
Das 106 obras expostas em três salas, a grande maioria é de óleo sobre tela. Sete são desenhos. Uma das salas é dedicada exclusivamente ao Rio de Janeiro. Nas duas outras, espalham-se quadros e desenhos, sobretudo de paisagens de Petrópolis. Alguns trabalhos registram São Tomé das Letras, em Minas Gerais. Na mostra, existe uma predominância de pequenos quadros, o que rendeu ao artista o título de miniaturista. Uma curiosidade: ele costumava fixar uma superfície de madeira no verso do chassi de seus óleos sobre tela. Pintava a madeira de marrom e nela anotava com tinta vermelha a descrição da vista representada, a data de execução e quem encomendara o quadro. Assim, Nicolau Facchinetti catalogou a própria obra para a posteridade.