Decifrar se houve – ou se há – vida em Marte nunca esteve tão próximo. Desde o Natal, quando entrou na órbita marciana, a nave européia Mars Express faz imagens e análises químicas do planeta vizinho. Em janeiro, ela ganhou a companhia de duas sondas-robôs americanas, que vasculham a superfície em busca de água. Por isso mesmo, não passa uma semana sem que alguma dessas missões envie notícias bombásticas do além. Na segunda-feira 29, foi a vez de a agência espacial européia ESA revelar a presença de gás metano na atmosfera do planeta vermelho, o que seria um sinal de vida biológica. Há ao menos duas explicações para o achado: ou Marte abriga bactérias semelhantes às da Terra, ou a presença do gás é decorrente da ação de vulcões.

“O mais provável é que seja a atividade vulcânica”, avisa Vittorio Formisano, pesquisador da ESA e chefe da missão. Mal Formisano falou e surgiram novas teorias delirantes sobre o passado marciano. Para aproveitar a onda de revelações, o historiador e sociólogo francês Pierre Lagrange lançou um original guia de turismo espacial, o Sur Mars (EDP Sciences, 255 págs.), que na internet pode ser encontrado por até 25 euros (cerca de R$ 90).

Como qualquer guia que se preze, o manual de Lagrange faz uma abordagem histórica do planeta, destrincha suas lendas e destaca os principais pontos turísticos. Claro que há sugestões malucas, como os passeios de balão ou a hospedagem num autêntico hotel marciano. As atrações turísticas, porém, são inquestionáveis. A primeira parada sugerida pelo estudioso da curiosidade humana por ETs não poderia ser outra: Monte Olimpo, o maior vulcão do Sistema Solar. Batizado com o nome da morada dos deuses na mitologia grega, ele tem dimensões de tirar o fôlego: a cratera mede 600 quilômetros de diâmetro e o vulcão tem estonteantes 25 quilômetros de altura. Outro ponto obrigatório são as múltiplas crateras que formam o Valles Marineris, o cânion que tem a largura dos EUA. Por sua riqueza geológica, aliás, o local foi escolhido pela agência americana Nasa para o pouso de sua sonda-robô Opportunity.

O guia de Lagrange, que é pesquisador do Laboratório de Antropologia do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França, é uma compilação de fotos e dados científicos recentes. Sua viagem não é apenas fictícia, embora ele se dedique à mitologia que inspirou obras-primas da ficção científica. Destaques para o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli, que em 1877 foi o primeiro a enxergar uma suposta rede de canais de irrigação erguidos por alienígenas. E para dois clássicos: o romance A guerra dos mundos, escrito pelo inglês H. G. Wells em 1898, sobre uma invasão marciana na Terra, e o programa de rádio de 1938, em que o diretor Orson Welles narrou o mesmo texto, como se fosse real. Foi tão convincente que muitos americanos entraram em pânico. A prova cabal de que uma mentira pode parecer verdade, desde que seja bem contada.