Um país abandonado, entregue às traças. Essa é a fiel imagem do Afeganistão, do qual se falou tanto há dois anos e meio quando a coalizão liderada pelos Estados Unidos derrubou o regime Taleban, mas que depois da guerra do Iraque foi desfocado do cenário internacional. A falta de atenção a esse país castigado pela guerra fez com que os graves problemas dos tempos de regime não fossem enfrentados. O mais difícil e sério deles é a produção de ópio, que voltou com toda a força e só no ano passado rendeu US$ 2,3 bilhões, mais de 50% do PIB do país. Cerca de 70% da população afegã vive com menos de US$ 2 por dia e a mortalidade infantil atinge 257 por 1.000 nascimentos, índice pior que o dos países paupérrimos da chamada África subsaariana. E, não bastasse isso, o país continua sendo celeiro de fundamentalistas islâmicos. Por essas razões, o presidente afegão Hamid Karzai foi a Berlim passar o chapéu para a comunidade internacional. Com um plano de sete anos para pôr fim às plantações e venda de haxixe e ópio, no dia 31 de março, Karzai pediu uma ajuda financeira de US$ 27,5 bilhões. Saiu com US$ 8,2 bilhões, a maior parte proveniente de Washington, para os próximos três anos. Na conferência, o Afeganistão e seis países vizinhos também assinaram acordo para combater o tráfico de ópio.

Erradicar as plantações de ópio pode ser tarefa hercúlea. Um fazendeiro de ópio ganha dez vezes mais que um soldado afegão que trabalha para impedir o comércio de drogas. A ajuda exterior é pífia. Os Estados Unidos mantêm 13,5 mil soldados no Afeganistão, caçando ex-membros do Taleban, além dos outros cinco mil da Otan (a aliança militar ocidental) na capital, Cabul, número irrelevante considerando as necessidades de segurança. Os EUA prometeram enviar mais dois mil soldados e a Itália, mais 300 homens. Tanto quanto antes da queda do Taleban, a questão central é como acabar com os senhores da guerra e suas facções armadas. Assim como no continente africano, onde por anos e anos eles desestabilizaram governos, no Afeganistão o fenômeno se repete. “Drogas, senhores da guerra e terrorismo são três multiplicadores, eles se realimentam”, afirmou o presidente afegão. Karzai sustenta que não há segurança no país e com esse argumento adiou as eleições presidenciais de junho para setembro deste ano. Entre a comunidade internacional, há unanimidade em concordar que apenas uma bem treinada força armada seria capaz de trazer a ordem ao país. Mas isso significaria um chapéu de Karzai muito mais recheado de dólares.