07/04/2004 - 10:00
Um spa de Nova York está fazendo a festa com um tênis vendido com o inacreditável apelo de combater a celulite. Ele tem um solado mais grosso no calcanhar e no meio do pé, desenho que aumentaria a circulação sanguínea da perna, o que permitiria agir contra um dos problemas mais odiados pelas mulheres. A empresa esgotou o estoque e anuncia que novo lote virá em 1o de maio. O produto sai por US$ 234 (cerca de R$ 700).
O argumento de que o tênis favorece a circulação não convence. “É impossível combater a celulite dessa forma. Mesmo que o tênis diminua a compressão sobre as veias, o efeito sobre o problema será mínimo. E ele não se trata de uma questão apenas vascular”, explica Paulo Zogaib, especialista em fisiologia do exercício. O médico Ricardo Nahas, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, chega a brincar. “A atividade física aeróbica feita com regularidade pode ajudar. Se a pessoa ficar estimulada a se exercitar por causa do produto, talvez esse seja seu único benefício”, diz.
Proteção – Na verdade, a aquisição de um tênis deve levar em conta seu feitio, seu material e para que fim será usado: praticar esporte ou desfilar pelo shopping. Antigamente, a escolha se limitava ao aspecto estético. Hoje, existem tantas opções que dá para agradar aos olhos e deixar o pé protegido. Para Zogaib, o fundamento do calçado esportivo é diminuir os impactos que a atividade física pode provocar. Sobre a melhora de performance – um ponto destacado pela indústria –, ele é cético. “Existem estudos a respeito de calçados mais adaptados a uma determinada prática. Mas nem todos comprovam que o uso de tênis é melhor que não usá-lo. Alguns atletas têm melhor rendimento correndo descalços”, afirma. Ou seja, se o objetivo não for superar limites na malhação, o consumidor não tem necessidade de adquirir um modelo caríssimo que parece transformá-lo num supercompetidor só de olhá-lo na vitrine.
Aventura: o XA Pro 2 (Salomon) foi criado para corridas em qualquer terreno, até os acidentados. Ele tem uma proteção que envolve a língua para evitar a entrada de pedregulhos. R$ 320*
Além de escolher um produto de qualidade e adequado à atividade física, outro aspecto a ser considerado é o tipo de pisada. “O correto é descobrir o tipo de pé e se o indivíduo pisa para dentro ou para fora”, explica a fisioterapeuta Gerseli Angeli, da Universidade Federal de São Paulo. Os tipos de pé se referem ao desenho do arco da sola, que amortece o impacto do peso corporal (leia quadro ao lado). Se a pessoa pisa para dentro, indica-se um produto que ofereça bom apoio no calcanhar e densidade de sola maior no lado interno. Se a pisada for para fora, deve-se escolher um modelo com sistema de amortecimento e um solado mais largo na lateral externa, para evitar que o pé vire. Quanto ao tipo de pé, há produtos para distribuir melhor o impacto. Se houver exagero no “desvio”, deve-se consultar um ortopedista, para que ele oriente o uso de uma palmilha corretora.
Basquete: o cano médio e o tecido de reforço nos calcanhares permitem que os tornozelos, muito exigidos no esporte, fiquem firmes. A entressola do modelo The Captain (Reebok) tem uma placa que promove amortecimento no calcanhar e na planta do pé. R$ 400
Algumas marcas de tênis disponibilizam essa informação. A Mizuno, por exemplo, criou calçados de corrida com indicação para os tipos de pisada e pé. Esses produtos apresentam selo de qualidade conferido pela Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva. E para incentivar as pessoas a descobrir a anatomia do pé, a empresa criou o pedígrafo. O equipamento tem uma placa que registra a impressão da planta do pé. Ainda que não se tenha essa informação, saiba que tênis do tipo keds não são indicados para atividade física. Sem sistema de amortecimento, eles são os campeões de lesões. “Podem gerar uma inflamação no tendão-de-aquiles ou no meio do pé”, diz Gerseli. E a fisioterapeuta é taxativa: nada de correr ou caminhar com produtos abertos atrás. O reforço traseiro é essencial. Ele deve ser em formato de “u” e na altura normal. Senão, o risco é uma tendinite.
Tênis: boa parte do impacto se concentra na ponta dos pés, daí a necessidade de reforço nessa região. Modelo Barricade (Adidas). R$ 500
Craques – A moda agora é convocar ídolos do esporte para ajudar na criação de modelos. A Rainha recorreu ao jogador de vôlei Giovane para lançar um modelo que chegará ao mercado nos próximos dias. “Se no jogo esqueço do tênis que estou usando, é porque ele está ideal. Um modelo mais duro e pesado atrapalha”, comenta o jogador.
E, para quem gosta de uma atividade mais zen, está para ser lançado um tênis ultra-leve indicado para a prática de ioga. “É quase uma sapatilha”, diz Andréa Gomes, gerente de calçados da Adidas. O produto deve estar nas lojas no segundo semestre.
Água: o Climacool Hellbender (Adidas) permite drenar água de seu interior. O solado é de borracha de alta tração e agarre para dar mais segurança em pisos encharcados. R$ 370 Vôlei: é desenhado para amortecer o impacto dos saltos dados pelos jogadores. Neste modelo da Rainha, a entressola e a palmilha são de um material extremamente macio. R$ 140
Corrida: deve ser leve. O ICON (Reebok) é feito de náilon, que facilita a transpiração. O sistema de amortecimento dispõe de dez câmaras de ar, divididas entre a ponteira e o calcanhar. R$ 240 Pé para fora: o Wave Creation 5 tem placas paralelas que se estendem pela entressola. É indicado ainda para quem tem pé com arco normal ou cavo. R$ 500