Semanalmente, atrações como o divertido Esquadrão da moda, do canal pago People + Arts, são responsáveis pela transformação de insatisfeitos com a própria aparência. Mas perto do recém-estreado reality show Extreme makeover, do canal pago Sony, e da também recém-estreada reality-novela Metamorphoses, da Rede Record, as mutações modernosas do Esquadrão da moda parecem filmes infantis. É que as duas novas atrações trazem a público algo até então inédito na televisão brasileira: as cirurgias plásticas exibidas passo a passo, numa prova de que a busca pela aparência perfeita não tem limites.

Inventada pelas revistas femininas, a velha fórmula do “antes e depois” é agora totalmente revitalizada na televisão. Sabe-se que o Brasil é o segundo país do mundo em número de cirurgias plásticas. Apesar do interesse, porém, tanto o reality show do canal Sony quanto a novela da Record são programas que correm no limite do cômico se não fosse trágico. Logo na primeira semana da novela, a doutora Circe (Lygia Cortez) examina a paciente Tallyta (Tallyta Cardoso) e lhe explica as técnicas da intervenção restauradora do nariz e do aumento de mama. Em seguida, a câmera corta para a sala de operação e o que o espectador vê é a atriz tendo seu rosto cortado e suturado.

Todas as cirurgias são gravadas numa clínica de Santos, explica o cirurgião plástico Evaldo Bolivar, também consultor da novela. “Desde 1989, tenho um ambulatório onde atendo pessoas de baixa renda”, conta. “Agora, eu encaminho alguns desses pacientes para a produção da novela, que paga os seus tratamentos.” Entre os “voluntários”, além de Tallyta, também entrou na faca a ex-miss Brasil Cristiane Rebello, 28 anos. Só que sua intervenção foi mais light. Na clínica de Metamorphoses, a ex-modelo de 67 kg e 1,75 m se submeteu a uma lipoescultura. “Quando acordei da cirurgia, senti como se houvesse levado uma surra. Mas, agora, só restaram alguns hematomas”, diz Cristiane, toda feliz, 15 dias depois da intervenção, já novinha em folha e com dez quilos a menos.

Mais realista, o programa Extreme makeover mostra não só a preparação para as cirurgias como todas as agruras do processo de cicatrização. No primeiro episódio, Kimé, uma cabeleireira de 29 anos, passa por uma transformação bem radical. Primeiro, o dentista William Dorfmann e o cirurgião plástico Garth Fisher reconstroem seus lábios. Em seguida, ela é submetida a uma plástica de mama, a uma lipoaspiração e a uma cirurgia para a correção de miopia. Durante as seis semanas de convalescença, ela conta que sentiu dores nos seios e no abdome. Também sofreu com o excesso de saliva. Nos Estados Unidos, este circo estético pode até ser inofensivo. Mas, aqui, o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Sérgio Carreirão, diz que transformar uma operação em reality show é algo lamentável. “O ato cirúrgico é o momento de maior entrega do paciente. Esse tipo de abordagem não informa nem educa. É pura propaganda para vulgarizar a cirurgia plástica.” Pode até ser. Resta saber se quem se submete às operações sem pagar um tostão pensa da mesma maneira.