Não serão poucos os que sairão de Elefante (Elephant, Estados Unidos, 2003), de Gus Van Sant, em cartaz nacional na sexta-feira 2, sem ter a menor idéia do significado oculto no seu título. Obviamente inspirado no massacre da escola americana de Columbine, ocorrido em 1999, o filme só mostra dois animais ao longo de sua hora e meia – o cachorro de um aluno e um touro estampado na camiseta de outro. Segundo Van Sant, a referência ao elefante se deve a um filme homônimo, de 1989, do cineasta inglês Alan Clarke. Ele também se inspirou na parábola budista em que vários cegos são chamados a apalpar, sem saber, diferentes partes do animal e dizer o que imaginam estar diante deles.

Com uma estrutura fragmentada que exibe diversos ângulos dos acontecimentos passados durante um fim de tarde numa escola de Portland, Oregon, Elefante é a aplicação cinematográfica do alcance filosófico daquela parábola budista. Evitando explicar com ferramentas sociológicas ou psicológicas as causas do massacre de alunos e professores capitaneado por Alex (Alex Frost) e Eric (Eric Deulen), o cineasta exibe apenas os fatos. Sempre com calmas viagens de câmera pelos vazios corredores da escola e com o arrepiante uso do chamado espaço-off, que oculta o agente fora do plano. O que não o impede de colocar questões contraditórias ao mostrar, por exemplo, que Alex é tão rápido no gatilho quanto no dedilhar de uma sonata de Beethoven. Pleno de diálogos improvisados e elenco não profissional, formado por alunos secundaristas – exceção reconhecível ao veterano Timothy Bottoms, no papel de pai de um adolescente –, Gus Van Sant realizou um filme que incomoda por não responder e por acumular indagações.