A partir do romance Estorvo, de 1991, levado às telas por Ruy Guerra, Chico Buarque apresentou uma nova faceta do seu talento, o do escritor de histórias que poderiam ser chamadas de simples, não fosse a complexa arquitetura para contá-las. O compositor e cantor já havia lançado Fazenda modelo (1974) e o livro infantil Chapeuzinho Amarelo (1979). Da nova fase vem o livro que agora ganha a força das imagens nas telas. A adaptação de Benjamim (Brasil, 2003), em cartaz nacional na sexta-feira 2, tomou nada menos do que quatro anos da diretora Monique Gardenberg, que trabalhou no roteiro com Jorge Furtado e Glênio Póvoas. Conta a história de um ex-modelo publicitário que perde a namorada no auge da repressão militar e hoje se vê confrontado pelo passado ressurgido na figura de uma sósia de seu grande amor.

Neste seu segundo longa-metragem, após o elogiado Jenipapo, Monique manteve a estrutura intrincada do romance. O modelo Benjamim Zambra é vivido por dois atores, Paulo José na maturidade e Danton Mello na juventude; a musa Castana Beatriz e sua sósia Ariela Masé foram assumidas pela estreante Cleo Pires, filha de Glória Pires e Fábio Jr. Para evidenciar as três décadas que separam os momentos da história, a diretora optou por filmar as cenas do passado com película em positivo revelada no mesmo processo do negativo, provocando uma explosão de cores irreal, como os anúncios publicados nas revistas dos anos 1960. Tais recursos, unidos à trilha sonora de época que se contrapõe à modernidade das canções de Arnaldo Antunes, ajudam a segurar a atenção do espectador, já que os diálogos e situações originais do texto de Chico são um tanto empolados. Mas o saldo de Benjamim revela-se positivo, em especial por uma grata surpresa chamada Cleo Pires.