31/03/2004 - 10:00
A visita do primeiro-ministro britânico, Tony Blair, a Trípoli, capital da Líbia, na quinta-feira 25, e seu encontro com o polêmico coronel Muammar Gaddafi, ditador líbio desde 1969, foi uma ocasião histórica. O simbólico aperto de mão significou a volta da Líbia ao cenário político internacional, depois de quase três décadas como país pária, financiador do terrorismo internacional e refém de sanções econômicas. Na prática, é o último ato da aproximação entre uma nação isolada, arrasada pela economia em frangalhos e necessitada de investimentos externos, e duas proeminentes potências, EUA e Reino Unido, em busca de apoio político e logístico para a guerra contra o terrorismo. “Nós estamos mostrando aos países árabes que é possível trabalhar junto com os EUA e o Reino Unido para derrotar o inimigo comum do fanatismo extremista da Al-Qaeda”, afirmou Blair, primeiro líder britânico a visitar a Líbia desde Winston Churchill, em 1943.
O retorno da Líbia ao concerto das nações vem sendo ensaiado há alguns
anos. Antes de Blair, os primeiros-ministros Jose María Aznar (Espanha) e Silvio Berlusconi (Itália) – além do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva – haviam visitado Gaddafi. Como preparativo, na terça-feira 23, o subsecretário de Estado americano, William Burns, já se tornou a mais alta autoridade americana a ir ao país desde os anos 80.
Há alguns anos, Gaddafi vem se esforçando para polir a imagem de radical antiamericano e antiisraelense que apoiava ações terroristas contra países ocidentais. As mudanças da política exterior da Líbia se intensificaram em setembro do ano passado, quando o país do Norte da África, em um comunicado à ONU, admitiu a responsabilidade pela bomba que explodiu um avião da Pan Am em pleno vôo, sobre a cidade escocesa de Lockerbie, em 1988, e matou 270 pessoas. A Líbia também se dispôs a pagar US$ 2,7 bilhões de indenização às vítimas dos atentados. Faltava ainda o passo final. E em dezembro do ano passado – talvez tendo em mente o pretexto anglo-americano para a invasão do Iraque –, Gaddafi anunciou que estava desmantelando todo seu programa de armas de destruição de massa e permitiria sem restrições as inspeções das agências internacionais. Assim, para não virar um alvo como Saddam Hussein, Gaddafi preferiu vestir a pele de cordeiro.