Anotações do caderninho de Palocci
O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, tem ficado caladinho, mas ninguém
pense que ele deixou de perceber. Durante toda essa crise, sempre que possível, seu colega da Casa Civil, José Dirceu, vinha a público pedir para cessarem as notícias sobre o Waldomirogate e que o país começasse uma discussão mais profunda da política econômica. Em outras palavras, Dirceu queria abafar o caso Waldomiro cobrando mudanças na economia. E Palocci também percebeu outro detalhe: todos os partidos governistas – ou melhor, sob a área de influência de José Dirceu – do PP ao PMDB, passando pelo PT, soltaram documentos exigindo um cavalo de pau na política econômica. Até agora Palocci não engoliu as declarações do presidente do PL, Valdemar Costa Netto (SP), pedindo a sua cabeça. Pelo menos dois parlamentares paulistas alertaram o ministro da Fazenda de que Valdemar é unha-e-carne com Dirceu. Nada faz na política nacional sem antes combinar seus passos com o ex-todo-poderoso da República.
 
 
Pesquisas 1

A expectativa no Palácio do Planalto é de que, nesta semana, apareçam as primeiras pesquisas de opinião com quedas significativas na popularidade do presidente. Tudo por conta do Waldomirogate. A solução encontrada pelos marqueteiros governistas é buscar abafar o escândalo com uma superexposição da imagem do presidente, mas agora no velho estilo “Lulinha paz e amor”.
 
 
Pesquisas 2
O maior problema das pesquisas, para o governo, é que as maiores quedas
de popularidade do presidente devem ser assinaladas nos grandes centros urbanos. Principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte,
passando por Porto Alegre. Exatamente nos lugares onde o PT acha fundamental vencer as eleições municipais. Se a coisa desandar aí, é mais problema para o governo no ano que vem.
 
 
O longo braço da lei
Lula editou na quarta-feira 24 a MP 176, ampliando os efeitos da lei que concede indenizações às vítimas da ditadura. Serão beneficiados: o estudante Edson Luís, morto no restaurante Calabouço em 1968; a guerrilheira Iara Iavelberg, companheira de Lamarca, que se matou em Salvador para escapar do cerco policial; o frei dominicano Tito de Alencar, que se matou na França após as duras torturas da equipe do delegado Fleury, no Dops paulistano.
 
 
Candidatos a Dirceu
O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, resolveu aproveitar o enfraquecimento de José Dirceu para tentar se tornar o grande articulador político do governo. Tem dito a amigos que se espelha no exemplo de Luís Eduardo Magalhães, que se tornou o pivô do governo FHC no Congresso. Outro que está candidatíssimo ao papel de José Dirceu é o presidente do PT, José Genoíno.
 
 
Como Salomé
Preocupado com o futuro, o general Jorge Armando Félix, que completa 12 anos
de generalato na próxima quarta-feira (31) e passa para a reserva, foi ao presidente Lula na segunda-feira 22. Pediu para continuar na chefia do Gabinete de Segurança Institucional. Lula topou, mas cobrou na bandeja a cabeça da cúpula da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), que o PT manteve incólume do jeito que
recebeu de FHC.
 
 
Rápidas

• Do líder demissionário do governo na Câmara, Miro Teixeira, explicando a amigos o motivo de sua saída: “Tem lá uma tal ‘Bancada do Waldomiro’ com a qual eu me recuso a negociar.”

• Gilberto Gil já está fechando os termos finais da nova lei de incentivos à Cultura, que vai substituir a chamada “Lei Rouanet”. O ministro ficará para a posteridade como autor da “Lei Gil”.

• O novo presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara é o pedetista Mário Heringer (MG). O PT, depois que virou governo, desistiu da comissão que historicamente adorava.

• Não perguntem à deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ) e seu colega de partido, o deputado Sérgio Miranda (MG), se estão se sentindo confortáveis na legenda. Eles estão à beira de romper.