31/03/2004 - 10:00
Depois dos atentados terroristas à rede ferroviária de Madri, em 11 de março, os jovens espanhóis e o Partido Socialista mobilizaram a população por meio de mensagens em celulares. O esforço – cerca de dois milhões de mensagens – derrubou o Partido Popular do governo, considerado responsável pela atração do radicalismo islâmico ao país, depois de seu apoio à guerra do Iraque. Repetia-se na Península Ibérica o mesmo tipo de ação que um milhão de filipinos já havia realizado para a derrubada do presidente Joseph Estrada, em 2001. Os dois exemplos fazem parte daquilo que o pesquisador de tecnologia Howard Rheingold chamou de “multidões inteligentes” em seu best-seller Smart mobs. Rheingold previa, já em 2000, que a moda das telemensagens avançaria como uma onda gigantesca, um “tsunami” a partir do Japão. Tóquio foi o epicentro deste fenômeno, e no final dos anos 90 tinha milhões de usuários.
Hoje, 100% das adolescentes japonesas têm fones com telemensagem. Esta massa envia um mínimo de 15 textos diários e compõe o maior mercado do serviço no mundo. O fascínio nipônico por esta forma de comunicação é tamanho que muitos jovens têm amigos que nunca viram e só mantêm relacionamento via mensagens no celular. São os chamados Meru Tomo. “Essa geração de japoneses praticamente não usa o telefone para falar, mas sim como forma de enviar e-mails. Muitos estão até deixando de comprar computadores. Os celulares substituíram os laptops”, diz a professora Mizuko Ito, pesquisadora da Universidade de Keio, atualmente trabalhando no Centro de Comunicações Annenberg, na Universidade da Califórnia do Sul.
E a mania já pegou no Brasil. As principais empresas de telefonia móvel do País andam apostando alto no mercado dos torpedos. Segundo Gilberto Otávio Dalaroza, gerente da divisão de messaging, da Vivo, o número de mensagens enviadas apresenta um aumento de 10% ao mês. Em janeiro, foram 200 milhões delas enviadas por 7,5 milhões de usuários. “Agora queremos ampliar os serviços de fototorpedos, pois o envio de fotos por celular aumentou. Contabilizamos 130 mil fototorpedos no último mês”, afirma Dalaroza.
A Claro, que desde 1999 conta com o serviço de telemensagens, credita ao público adolescente – cerca de oito milhões de usuários – o sucesso dos torpedos. “Jovens de 12 a 16 anos mandam até dez mensagens por dia”, afirma Roberto Guenzburger, diretor de marketing da empresa. “Envio, em média, 15 a 20 mensagens por dia. Uso mais o celular do que o e-mail”, conta o estudante Guilherme Murad, 19 anos. “Geralmente mando para amigos e paqueras, mas comecei a enviar também em assuntos de trabalho. A maioria das vezes é para combinar alguma coisa. Para as meninas, já fiz convites e mandei um agrado no dia seguinte.”
Mesmo não sendo o filão do público dos torpedos, as empresas de telefonia móvel estão de olho nos adultos e disponibilizando serviços específicos. A TIM, por exemplo, inclui dentro do serviço de torpedo a Lupa, que permite fazer consultas sobre Imposto de Renda ou dicionários de idiomas (R$ 0,39 a consulta).
Adolescente ou não, quem começa a mandar mensagens, dizem os telemaníacos, vira fanático, até porque os torpedos são mais baratos do que o minuto falado. No Japão, a obsessão pelas telemensagens é tamanha que os adolescentes ficaram conhecidos como “tribo do polegar”. Os teclados nos aparelhos são operados por polegares, o que deu origem não apenas ao nome desta geração, mas a especulações desconcertantes. A britânica Sadie Plant, pesquisadora de tendências culturais e tecnológicas, reportou que as crianças e os adolescentes do Japão, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos estavam desenvolvendo superpolegares devido ao uso exagerado deste dedo em videogames e telemensagens. “Uma bobagem!”, garante o professor Randall Susman, do departamento de antropologia da Universidade de Nova York. “Seriam necessárias muitas gerações de usuários para conseguir mudar a configuração do polegar.”
Na Inglaterra, segundo a empresa de telefonia Virgin Mobil, é digitado 1,4 bilhão de mensagens por ano. Nos Estados Unidos, onde a moda custou um pouco mais a chegar, a empresa de pesquisas Yankee Group estima que 56% dos adolescentes daquele país usam as telemensagens. “E este número deve subir para 68% até 2005”, diz Linda Barrabec, analista da Yankee. Duas das pessoas que perfazem esta estatística são Alison Hirsh, 18 anos, e Bethany Horowitz, 18. “Envio uma ou duas mensagens diárias. Acho que o serviço é conveniente, pois às vezes a gente não quer entrar numa conversa e o texto evita isso”, diz Bethany.
Por aqui, a publicitária Milene Rizzardi, 32 anos, também entrou na onda. “É o ideal para quando você não quer falar e ouvir, apenas dar um recado, como um bilhete”, explica ela, provando que torpedo em celular também é coisa de gente grande. Luma de Oliveira que o diga.