31/03/2004 - 10:00
"Contra o mau-olhado, eu carrego meu patuá.” A exemplo de Caetano Veloso no samba-enredo É hoje, as mulheres antenadas querem mais é espantar o olho-gordo. E a melhor maneira de conseguir isso é carregar colares enfeitados com figas, olhos turcos, espadas-de-são-jorge, símbolos religiosos e amuletos pessoais. O adorno já se tornou objeto de desejo e está nos pescoços de descoladas e lulus. Jóia ou bijuteria, não importa. Em vez de ser usados escondidos, desta vez os patuás têm de ficar à vista do inimigo. Ou seja, o legal é usar o colar para fora de camisetas, tops ou casacos.
As primeiras mulheres a usar o “escudo in” foram as poderosas. Gisele Bündchen desfila o seu fora das passarelas. As celebrities do momento, Daniella Cicarelli e Juliana Paes circulam por eventos badalados com seus patuás. Juliana ganhou de uma amiga paulista e imediatamente aderiu ao estilo. “Ela me disse que eu seria uma das primeiras cariocas a ter um, pois se tratava de uma moda paulista. Adorei. Uso por superstição e porque acho bonito”, conta a atriz.
As empresárias da butique paulista Daslu, Eliana Tranchesi e Donata Meirelles, também são adeptas e ostentam suas proteções pelos corredores da loja, inspirando clientes e vendedoras. “Em geral usam-se sete pingentes. Mas o meu cordão tem 21. Nunca dispenso a minha Nossa Senhora”, conta Eliana, que pôs inclusive fotos dos filhos no colar.
Tanto charme tem assinatura. As autoras dos primeiros patuás fashion foram as irmãs Flávia e Roberta Eluf, de São Paulo. E, embora os amuletos sejam sustentados por um longo fio de couro – o colar fica abaixo dos seios – e acompanhados por um olho turco desenhado pela dupla, nenhum patuá feito por elas é igual ao outro. Para isso, as designers elaboram e garimpam peças em lojas de candomblé, brechós e feiras.
Mas a idéia do colar surgiu por acaso, numas férias na Bahia. Elas estavam passeando no Mercado Modelo de Salvador e compraram pencas de berloques místicos e os juntaram em um único saquinho. “Quando os despejamos em cima da mesa, curtimos o visual. Misturamos algumas de nossas jóias preferidas aos pingentes, em um cordão de couro. Nossas amigas amaram, e começamos a vendê-los no boca a boca”, conta Flávia. Por escolha da dupla, o método de venda continua o mesmo até hoje. As peças são vendidas somente por elas e os preços do seleto colar variam conforme os penduricalhos escolhidos – clientes também podem confiar às moças peças pessoais para composição – e variam de R$ 300 a US$ 1 mil.
Mas, como uruca não é privilégio de ninguém, há também outras versões de patuás no mercado. A tradicional joalheria Dryzun, de São Paulo, também desenvolveu sua leitura da crendice-chique. Intituladas de penquinhas das sete ervas, o berloque da joalheria representa em jóias a espada-de-são-jorge (coragem), o alecrim (equilíbrio), a arruda (proteção), a comigo-ninguém-pode (força), a guiné (confiança), o manjericão (amor) e a pimenta (paixão). As ervas, antes usadas em vasos, banhos ou atrás da porta de residências, ganham nas lojas da Dryzun brincos, anéis e colares. Embora a joalheria já fabricasse a arruda e a figa há algum tempo, nunca houve tanta procura por este tipo de pingente. A primeira edição da coleção das sete ervas – que tinha duas mil peças em 30 modelos com preços entre R$ 200 e R$ 2.800 – se esgotou na semana do lançamento em dezembro de 2003. No período, foi feita uma lista de espera de clientes ávidos pelos desenhos de Scheila Dryzun, que hoje mantém abastecidos seus corners espalhados pelo Brasil.
Outro entusiasta das jóias místicas é o designer carioca Antonio Bernardo. Depois de fazer sucesso com seus inovadores pingentes em ouro na década de 90, Antonio Bernardo entra na era da superstição com modelos que atendem a esta demanda. Pedras de signos, figas e anjinhos estão entre as opções do designer para compor o colar do momento. É possível encontrar peças em conta a partir de R$ 138. Mas as jóias mais sofisticadas podem chegar a R$ 33 mil. Com tanto luxo, não há mau-olhado que resista.