Na segunda-feira 22, uma notícia assustou familiares e pacientes que fazem uso de antidepressivos. O Food and Drug Administration (FDA), órgão americano responsável pela liberação de medicamentos, fez um alerta sobre uma possível ligação entre esse gênero de remédios e o suicídio. A instituição solicitou que os fabricantes de dez medicamentos coloquem na bula um aviso para que os médicos façam um monitoramento mais atento de adultos e crianças que se tratam com os medicamentos. De acordo com o órgão, a decisão foi tomada depois de serem relatados casos de crianças que tomavam antidepressivos e apresentaram comportamentos que podem ser entendidos como tendências suicidas (machucaram-se propositadamente, por exemplo).

O FDA está investigando a relação entre as drogas e o suicídio mais profundamente. Porém, mesmo antes de uma conclusão, decidiu ser conveniente alertar sobre a existência do risco, principalmente no início do tratamento ou nas fases de mudança de dose. No Brasil, a Agência de Vigilância Sanitária traduziu as informações sobre o assunto. Segundo o órgão, cinco dos dez remédios terão o texto da bula adaptado assim que a mudança for feita no país de origem. Nos outros, a alteração será discutida com o fabricante no Brasil.

A notícia não surpreendeu os médicos. “Desde que os primeiros antidepressivos foram inventados sabe-se desse risco. Isso acontece no começo do tratamento, quando o paciente tem uma melhora da apatia causada pela depressão, mas não da doença em si, o que pode deixá-lo mais disposto para cometer suicídio”, explica o psiquiatra Rubens Pitliuk, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Na opinião da maioria dos especialistas, a decisão do FDA de levantar esse assunto agora está mais ligada ao exagero de prescrições das drogas do que ao risco do suicídio. Em entrevista ao jornal The New York Times, o psiquiatra Wayne Goodman, integrante da comissão técnica do FDA, afirmou que muitos médicos têm sido levados a pensar que esses remédios são totalmente seguros. “A toxicidade desses medicamentos tem sido subestimada”, disse.

Na avaliação do psiquiatra Ricardo Moreno, professor da Universidade de São Paulo, o alerta veio em um ótimo momento. “Várias prescrições são feitas sem considerar os riscos. Apesar de pequenos, eles existem e devem ser colocados”, acredita.
Já Alexandrina Meleiro, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, vê restrições. “É fundamental lembrar que existem pesquisas no mundo inteiro mostrando que a taxa de suicídio diminuiu entre pessoas com depressão
que se tratam corretamente”, ressalva. Apesar disso, a médica acredita que o
alerta tem o aspecto positivo de estimular os médicos a fazerem uma análise
mais cuidadosa antes de receitar um antidepressivo. “Não importa a finalidade
para a qual o remédio é receitado, se para largar o cigarro, por exemplo. O médico deve avaliar com atenção se o paciente tem o que chamamos de fatores protetores contra o suicídio. Se valoriza a vida e a si mesmo e busca ajuda quando precisa, entre outras coisas. Quem não apresenta essas características deve ser observado com muito cuidado”, esclarece.