31/03/2004 - 10:00
"Os fatos que ISTOÉ revela comprovam que o extermínio era uma política de Estado, e não uma obra isolada de loucos”, diz Suzana Lisboa, da Comissão das Famílias de Desaparecidos Políticos, reagindo à revelação dos nomes dos matadores que, durante a ditadura, formaram uma tropa de extermínio, seguindo a decisão adotada em reunião secreta dos generais Emílio Médici e Ernesto Geisel, em 1973, de acabar com os guerrilheiros da luta armada. “Espero que o governo Lula e o Exército chamem estes matadores para contar onde mataram e enterraram as vítimas. Desaparecimento é crime contra a humanidade e não prescreve nem com anistia.” O deputado Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP), indiferente à apatia oficial, decidiu agir já na quinta-feira 25: pediu à Comissão de Direitos Humanos da Câmara que ouvisse os coronéis José Brant Teixeira, Paulo Malhães e Aldir Santos Maciel, três dos matadores denunciados.
O governo, ao contrário, reagiu friamente à denúncia. O Planalto não quis se pronunciar e delegou a tarefa ao ministro da Defesa, José Viegas, que gastou
64 palavras para responder à reportagem: “A sociedade brasileira reconhece o respeito incondicional das Forças Armadas ao poder emanado das urnas, aos Direitos Humanos em todas as suas dimensões”, pontificou. O Comando do
Exército e o chefe do Centro de Informação do Exército, onde serviam os matadores, ficaram em silêncio.
O general Octávio Medeiros, ex-chefe do SNI (Serviço Nacional de Informação),
mal apareceu na janela de casa, em Brasília, para justificar sua mudez: “Não vou perder tempo. É um monte de mentiras”. Do lado oposto, o cabo Félix Freire Dias gastou duas horas para negar que seja o mórbido “Dr. Magno”, o homem do CIE encarregado de serrar os presos para impedir a localização de suas covas – entre eles, o deputado Rubens Paiva, segundo o ex-sargento Marival Chaves. “Trabalhei no CIE como motorista. Era uma espécie de estafeta, que levava e trazia os coronéis e pagava conta em banco”, defende-se Freire.
O secretário Nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, confessa sua impotência para ir atrás dos matadores protegidos pela anistia: “Não há nada que
os obrigue a falar. Nossa única chance é que eles se disponham a colaborar para localizar os lugares onde enterraram os guerrilheiros. O governo, neste caso, lhes garante sigilo e proteção para contar o que sabem”, diz Nilmário. O presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, o advogado Luís Francisco da Silva Carvalho Jr., antecipa que vai chamar os denunciados para depor, mas se mostra decepcionado com a inação do governo: “É uma reação estranha e inaceitável, especialmente do Ministério da Defesa. Parece que o governo Lula ainda teme criar arestas com os militares.”