11/12/2009 - 21:00
A tradicional premiação do Brasileiro do Ano, promovida há uma década pela Editora Três, foi, este ano, a festa da superação da crise econômica. Pela primeira vez, políticos, empresários e artistas comemoraram juntos o fato de o Brasil superar, de forma rápida e surpreendente, a maior turbulência financeira desde os anos 1930. Mil e setecentas pessoas compareceram, na segunda-feira 7, ao Hotel Sheraton, em São Paulo, para celebrar a proeza de o País sair da crise mundial ainda mais forte e com a perspectiva de alcançar o estágio de uma potência econômica global. Ao todo, 16 brasileiros foram homenageados por ISTOÉ, revista Dinheiro e revista Gente. “Comumente, para não dizer sempre, o que no mundo era uma marola, aqui se transformava num tsunami. E quem, entre nós, uma década atrás, quando iniciamos essa premiação, poderia apostar que na próxima grande crise econômica mundial o último país a entrar e o primeiro a sair seria justamente o Brasil?”, questionou o presidente executivo da Editora Três, Carlos (Caco) Alzugaray.
No início de 2009, tudo indicava que todos os esforços dos anos anteriores estavam ameaçados pela crise financeira. No entanto, a Editora Três já reiterava a confiança na capacidade de a classe dirigente do País estar mais preparada para enfrentar contratempos econômicos. A noite foi a consagração desta crença por conta da ousadia do governo, do empenho dos empresários e do povo brasileiro, que não se deixou dominar pelo pânico que abalou o mundo e sustentou um robusto mercado interno. Neste terceiro trimestre, o País cresceu mais de 4% e deve registrar expansão superior a 5% em 2010. Logo depois de receber o prêmio de Brasileiro do Ano das mãos do diretor e editor responsável da Editora Três, Domingo Alzugaray, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sintetizou em seu discurso de agradecimento: “A gente precisa dedicar este prêmio àqueles brasileiros que vivem no anonimato e que aos poucos estão conquistando a sua cidadania; aos trabalhadores brasileiros que, muitas vezes, só veem a gente pela televisão; aos empresários que não se acovardaram e resolveram enfrentar a crise de peito aberto e vencê-la.”
Democrática, a festa contou com a participação de nomes de peso da política, da economia, do esporte e da cultura, que celebraram as conquistas do País com a mesma ênfase, independentemente de suas bandeiras partidárias. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), esqueceram as divergências e dividiram o palco com o presidente Lula. Os seis ministros de Estado presentes ao evento também participaram desta confraternização entre os poderes. Edison Lobão, de Minas e Energia, brincou com o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, ao encontrá-lo na sala vip. “Preparado para assumir o Palácio dos Bandeirantes?”, perguntou Lobão, referindo-se à hipótese de Goldman assumir o cargo na campanha eleitoral de 2010.
O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães, elogiou o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Cesar Asfor Rocha, pelo programa de modernização do Judiciário brasileiro. A noite contou ainda com a presença de empresários como Luiz Fernando Furlan, Antoninho Trevisan e Alcides Tápias. Praticamente todos os setores da economia estavam representados por seus maiores players, como o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco; do Banco do Brasil, Aldemir Bendine; e do Santander, Fábio Barbosa, premiado como Empreendedor do Ano em Finanças. “Esta noite mostra que temos razões para acreditar num crescimento do PIB brasileiro de 6% no ano que vem”, disse o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf. A nova economia também foi representada por nomes de destaque em 2009, como Romero Rodrigues, do BuscaPé, vencedor do Empreendedor do Ano na categoria Tecnologia.
Na categoria Política, o Brasileiro do Ano foi o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB). “Me permito uma certa ousadia: eu diria que os analistas políticos mais isentos do futuro vão achar um período, que vai da criação do Plano Real no governo Itamar Franco, até o governo Lula, que irão considerar extremamente virtuoso da política brasileira”, afirmou Aécio, mostrando que, independentemente de estar no principal partido de oposição ao governo, mantém a serenidade para avaliar os pontos positivos conquistados por seus adversários.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, premiado na categoria Economia, adotou o mesmo tom conciliador. Apesar de ter enfrentado críticas às suas medidas desenvolvimentistas no combate à crise, Mantega preferiu ver os pontos positivos de um momento tão turbulento que vai se encerrando. “Essa crise revelou nossa capacidade de reagir em condições adversas, por isso saímos dela mais fortes”, afirmou o ministro, sendo ouvido atentamente pela plateia repleta de empresários e executivos, como Sérgio De Nadai, do grupo De Nadai, o presidente da Vivo, Roberto Lima, e o presidente da Claro, João Cox, e o presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), João Doria Jr.
Quem também fez questão de adotar um tom conciliador foi o atacante do Corinthians, homenageado pela revista GENTE como Personalidade do Ano no Futebol. Após receber o prêmio do corintiano Lula, Ronaldo tentou fazer as pazes com a torcida do Flamengo, seu time do coração. “Foi um ano de dar a volta por cima, fui campeão quatro vezes: duas com o Corinthians como jogador e duas com o Flamengo, como torcedor”, afirmou o “Fenômeno”. O diretor Daniel Filho também ajudou a ampliar o clima de descontração que marcou a festa da Editora Três. Celebrado como Brasileiro do Ano na Cultura, o diretor do blockbuster “Se Eu Fosse Você 2” disse que estava feliz com o prêmio, mas que preferia ser homenageado pela revista Dinheiro. “Preferia ter ganhado o prêmio de empreendedor, assim estaria investindo no cinema nacional”, disse, arrancando gargalhadas da plateia. Na categoria Esporte, o Brasileiro do Ano foi o nadador Cesar Cielo, medalha de ouro na Olimpíada de Pequim e campeão mundial em 2009. O atleta agradeceu a todos que o ajudaram a conquistar o pódio. “Sou como o Giba do vôlei, tenho uma equipe que prepara a bola para que eu possa cortar e fazer o ponto”, afirmou Cielo.
No mesmo tom de vitória, o empresário Abilio Diniz, um dos premiados pela revista DINHEIRO como Empreendedor do Ano e agora o maior empresário do setor de varejo do País, lembrou que atendeu ao chamado feito pelo presidente da República há um ano, quando Lula pediu para que ele fizesse de tudo para estimular o consumo. “O desafio para o ano que vem é continuar crescendo neste país fantástico, que tem uma população com mais emprego e mais renda e precisamos acompanhar essa tendência”, disse Diniz, que três dias antes havia anunciado a fusão do Grupo Pão de Açúcar com a Casas Bahia, criando uma gigante com faturamento de R$ 40 bilhões.
Juliana Paes, homenageada como a Personalidade do Ano pela revista GENTE, deu um verdadeiro show de humildade e emocionou a plateia. Às lágrimas, a atriz principal de “Caminho das Índias” contou como foi difícil vencer o preconceito de ser ao mesmo tempo uma mulher bonita e também uma profissional. “Provar que você é uma boa atriz, quando o foco é sua beleza, seus atributos, é difícil. Mas eu sempre tentei chamar a atenção pelo meu trabalho e eu consegui”, disse. Outra atração da noite foi a apresentadora Sabrina Sato, também homenageada pela GENTE. Depois de arrancar risos por seu jeito descontraído, Sabrina agradeceu a toda a equipe do “Pânico na TV”. “Não faço nada sozinha, ninguém faz nada sozinho”, disse a apresentadora, sem querer, resumindo com perfeição o momento que vive o Brasil.
As palavras do presidente
Com seu estilo descontraído, porém veemente em suas opiniões, Luiz Inácio Lula da Silva arrancou aplausos da plateia
“Quantas vezes eu fui tripudiado porque dizia que nós tínhamos uma marolinha”
“A gente precisa dedicar este prêmio àqueles brasileiros que vivem no anonimato e que aos poucos estão conquistando a sua cidadania; aos trabalhadores brasileiros que, muitas vezes, só veem a gente pela televisão; aos empresários que não se acovardaram e resolveram enfrentar a crise de peito aberto e vencê-la”
“Existe um certo azedume na imprensa brasileira que muitas vezes não contribui quando permite que a mentira prevaleça sobre a verdade”
“Eu lembro que quando o [George] Bush veio aqui não podia tirar foto no carro da Ford e da GM porque disse que não podia fazer merchandising. Pois eu posso. E fui lá e tirei fotos ao lado dos carros”
“Hoje eu sou um porta-voz, quase um garoto-propaganda das empresas brasileiras”
“A gente tem que parar com essa bobagem de que político é um ser superior. Não posso rir porque sou político, não posso beber porque sou político, não posso falar palavrão porque sou político. Pode sim”
“Jamais na minha vida pensei que eu ia para a tevê fazer apologia do consumo. Na juventude, eu era contra a sociedade consumista”
“A economia é uma roda gigante que não pode parar”