17/03/2004 - 10:00
O governo atravessa um momento delicado. Como um time de futebol
que antes do início do jogo foi recebido pelo carinho da torcida – gritando e aplaudindo o nome do técnico e de cada um de seus jogadores – e depois do apito, com a bola rolando, continuou recebendo apoio e conseguiu até um respeitoso silêncio da torcida adversária, Lula e seus ministros estão começando agora a sentir a pressão das vaias. E elas não vêm só dos torcedores adversários. Sua própria torcida já dá sinais veementes de impaciência.
A tática aplicada para o começo do jogo foi arriscada. Com fama de agressivo, o time surpreendeu e entrou em campo na retranca, cumpriu o regulamento do FMI e, ao invés de ir para a frente, como se esperava, recuou o ataque e ficou estagnado pelos juros altos, trocando a bola na defesa, acumulando munição para um torturante superávit primário. Até determinado momento, o plano deu resultado e o time recebeu aplausos e elogios. Entendeu-se que a retranca estava lá para limpar o campo para o ataque que viria em seguida.
O problema é que o tempo passa, a ansiedade da torcida aumenta e o time continua na retranca. A irritação cresce tanto na torcida quanto – o que é pior – dentro do próprio time. O meio do campo já não se entende, os jogadores começaram a perder a cabeça e criticam abertamente a tática adotada. Por enquanto, as vaias ainda não chegaram ao
técnico, mas é hora de levantar do banco, gritar e exigir que o time se organize e cumpra o combinado. Vá para o ataque. E um bom momento para isso é a próxima reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, que irá se manifestar sobre os juros na quarta-feira 17. Se puxar um bom contra-ataque, poderá virar o jogo e comprovar a qualidade do time, do técnico e da tática, e principalmente recuperar a confiança da torcida.