O elegante e aristocrático tênis viveu uma semana típica de seu distante irmão mais popular e conturbado, o futebol. Uma série de equívocos e trapalhadas deu um match-point no esporte, numa referência ao ponto que pode ou não determinar o fim de uma partida. Na terça-feira 9, Gustavo Kuerten comunicou a sua saída da equipe brasileira que enfrentará o Paraguai em abril pela Copa Davis, uma espécie de copa do mundo do esporte. Guga alegou que Nelson Nastás, presidente da Confederação Brasileira de Tênis (CBT), não consultou os jogadores antes de decidir pela troca do técnico Ricardo Acioly por Jaime Oncins. Além disso, acusou Nastás de não aproveitar a projeção que ele deu ao esporte para desenvolver o tênis no Brasil. No dia seguinte, Flávio Saretta e André Sá, que também fazem parte do grupo, aderiram ao boicote. Pressionado pelas desistências, Oncins desistiu do cargo. A confusão não termina aí. Horas antes do abandono de Oncins, policiais cumpriram mandado e invadiram a sede da CBT. Foram atrás de documentos, balanços e livros fiscais que comprovariam supostas fraudes e desvio de verbas na entidade.

Essa é a pedra no sapato de Nastás, um ex-diretor de esportes do Clube Sírio de São Paulo, ex-presidente da Federação Paulista de Tênis e há dez anos à frente da CBT. O movimento Tênis Brasil, composto por presidentes de federações estaduais e por pessoas ligadas ao esporte, há tempos vem acusando o dirigente máximo da CBT de incompetência e improbidade administrativa. As desconfianças tiveram início nos preparativos para o confronto entre Brasil e Austrália, válido pela Copa Davis, realizado em Florianópolis no início de 2001. A Federação Catarinense de Tênis, presidida por Jorge Lacerda Rosa, cobra de Nastás uma dívida R$ 140 mil referente aos lucros da bilheteria do evento. O dirigente alega que não deve nada. O imbróglio fez com que Lacerda pedisse a abertura das contas da confederação. “Além de não prestar contas, o Nastás falsificou atas e até mesmo estatutos da CBT. Tudo para não dar satisfação sobre o dinheiro que entra na entidade”, acusa Rosa. Ele acredita ter força suficiente para destituí-lo. Para isso, seriam necessários os votos de dois terços dos presidentes de federações presentes à assembléia extraordinária que ele pretende convocar para os próximos dias. Nastás, por sua vez, garante que cumpre o mandato até o fim, ou seja, até dezembro.

Rosa acredita que uma saída rápida do dirigente faria com que Guga e seus parceiros mudassem de idéia e enfrentassem o Paraguai. Um eventual W.O. seria catastrófico para o tênis brasileiro. Além de multas e prejuízos pela não realização do confronto, o País correria o risco de ser suspenso pela federação internacional. “Apóio a medida dos jogadores. Mas acho que ela deveria ter sido tomada há mais tempo”, diz Paulo Cleto, que por 16 anos foi capitão brasileiro na Davis. Todos os amantes do tênis brasileiro devem achar o mesmo.