Começa a nascer um novo partido. A coloração vermelha, o viés à esquerda e a larga experiência na militância popular fazem lembrar o Partido dos Trabalhadores dos velhos tempos. Não é à toa. O berço da nova legenda foi o próprio PT. Ex-petistas históricos e parlamentares desgarrados começaram nesta sexta-feira 12, num encontro na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), o processo de criação da nova legenda. Seus correligionários garantem que não será uma espécie de PT do B e adiantam que a inscrição no Tribunal Superior Eleitoral está prevista para junho. Até lá, outras 23 plenárias serão realizadas por todo o País. Estão em discussão alguns nomes, como Partido Socialista, Partido da Aliança Socialista, Partido da Esquerda Socialista. Dos seus
quadros farão parte políticos como a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados federais Luciana Genro (RS), João Babá (PA) e João Fontes (SE), expulsos do PT.

“Precisamos preencher o vazio que o PT deixou na esquerda brasileira”, diz o sociólogo Francisco Oliveira, abrindo mão de sua biografia de petista. Intelectuais como os cientistas políticos Leandro Konder e Carlos Nelson Coutinho também estarão ao seu lado. “O PT é hoje um partido de centro junto com aquele que escolheu como irmão, o PSDB”, analisa Oliveira, com a convicção de que o PT não ganhou porque capitulou. “Foi o contrário. Ele capitulou porque ganhou.” O sociólogo não mede palavras para mostrar sua indignação em relação ao que se transformou o partido que ajudou a construir. Política econômica desastrosa, reforma da Previdência antitrabalhador e uma total inversão de valores trocando os ideais republicanos pelos liberais são algumas das críticas feita por ele.

“Mais do que uma necessidade, a criação desse novo partido é uma obrigação”, define Luciana Genro. Seu colega de Câmara João Babá está animado com a mobilização. É necessário um quórum mínimo de 101 representantes de nove Estados, além de um abaixo-assinado com 500 mil assinaturas. “Pretendemos entrar com o pedido de registro provisório no fim do ano”, garante Babá, antecipando que o nome da senadora Heloísa Helena já virou sinônimo de candidata à Presidência em 2006.”

Depois de quase três décadas no PCB, uma ligeira passagem pelo PSB e 15 anos de PT, Leandro Konder está animado com a construção do novo partido. “Sempre fui visto dentro do PT como revisionista, só que hoje o PT mudou de lado e ficou à nossa direita”, comenta Konder, acrescentando que está faltando ousadia ao governo federal na condução da política macroeconômica.

Egressos ou ainda militantes do PT são bem-vindos ao novo partido, garantem seus organizadores. O recado tem endereço certo. Abalar a convicção, principalmente dos parlamentares, que fazem parte da chamada esquerda do PT. “Nossas portas estão abertas”, convoca João Fontes. Seja qual for o nome que venha a ter, já está delineado que o novo partido será de esquerda. “O PT abriu mão dos seus princípios e está se movimentando no sentido de reproduzir, nas campanhas municipal de 2004 e na presidencial de 2006, uma grande frente de centro-direita”, afirma o documento de convocação da plenária do Rio.