Caminhadas e hidroginástica são os principais caminhos escolhidos por idosos para se prevenir de doenças degenerativas. Mas um estudo comandado pela geriatra Judy Kruger, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) de Atlanta, nos Estados Unidos, revela que exercícios mais pesados, como a musculação, podem também trazer vários benefícios à saúde da terceira idade. De acordo com a pesquisadora, o aumento da força muscular é capaz de reduzir o risco de quedas e fraturas, ajudar contra a diabete e ainda reativar movimentos e reflexos enfraquecidos pela idade. A Sociedade Brasileira de Geriatria endossa a conclusão do estudo. “Os idosos que se exercitam com a musculação têm apresentado melhoras significativas em todos os aspectos”, afirma Adriano Gardilho, presidente da entidade.

Há pouco mais de um ano, a dona-de-casa carioca May dos Santos Leitão, 80 anos, recebeu uma proposta que, à época, classificou como “indecente”: seu professor de hidroginástica a convidou para fazer aulas de musculação. O exercício cultuado por jovens para esculpir o corpo à base de muito sacrifício não lhe pareceu nada atraente, mas ela aceitou o desafio. “Fui a primeira aluna da terceira idade a fazer isso na minha academia, mas nunca me intimidei com a garotada”, orgulha-se. A dona-de-casa conta ainda que os exercícios lhe renderam mobilidade, força e firmeza. “Hoje tenho mais segurança para fazer tarefas domésticas”, diz. De acordo com o médico Gardilho, o avanço da idade contribui para a perda progressiva da massa muscular e, consequentemente, para enfermidades que atingem o esqueleto, que fica mais vulnerável. “Fortalecer os músculos reduz o impacto entre os ossos, diminuindo o risco de fraturas ou lesões”, afirma.

Outra vantagem dos exercícios que atuam diretamente nos músculos é aumentar a capacidade do organismo de reagir melhor à insulina, o hormônio que abre as portas das células para a entrada da glicose. Isso é ótimo para o paciente com diabete, já que a doença é caracterizada pela falta ou deficiência na produção e aproveitamento da insulina. “A doença causa uma resistência nos tecidos, que não absorvem a insulina produzida pelo organismo. A atividade física leva o hormônio a se encaixar mais facilmente nos receptores das células musculares”, explica Eduardo Ferrioli, coordenador da Divisão de Geriatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

Benefícios como esses estão estimulando uma adesão cada vez maior dos idosos. Na academia Velox, no Rio de Janeiro, houve um crescimento de 30% na quantidade de pessoas mais velhas fazendo musculação. “Entre todas as atividades, é a que apresenta menor risco”, avalia Leonardo Dias, coordenador da academia. O procurador Paulo Olinto, 73 anos, frequenta as aulas cinco vezes por semana e garante que sua vida mudou desde que introduziu essa modalidade de atividade física na rotina. “Tinha dores nos joelhos, mas a musculação acabou com esse sofrimento”, vibra Olinto. Ele levou o bom exemplo para dentro de casa. “Meus quatro filhos agora são esportistas também”, conta, envaidecido. Se a atividade ajuda a construir uma vida mais ativa e saudável, é importante não perder de vista que a idade avançada requer cuidados especiais. “Não se pode perder a noção dos próprios limites”, adverte o médico Adriano Gardilho.