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Testada pelo público brasileiro em montagens de grande êxito, a produção de musicais prepara-se para um novo salto qualitativo: três espetáculos do gênero, assinados pelos diretores Charles Moëller e Claudio Botelho, vão ganhar os palcos do mundo a partir de 2009. A noviça rebelde, Beatles num céu de diamantes e 7 – o musical, todos ainda em cartaz no Rio de Janeiro, em breve estarão em cartaz em cidades da América Latina, Ásia e Europa. As negociações estão sendo feitas em moldes inéditos no mercado nacional. Em vez de viajar com toda a estrutura da peça, a produtora Aventura, que negocia os direitos desses musicais, está vendendo-os como uma marca, para que sejam interpretados por elencos locais, mas com a direção dos brasileiros. "É uma espécie de selo de qualidade", explica Moëller. A única das três produções a levar o elenco em turnê será a peça com músicas dos Beatles, em cartaz desde janeiro e vista por mais de 60 mil espectadores. Além de ser cantada em inglês, seu enredo tem um apelo universal.

i72712.jpgExportar produções musicais não é novidade no cenário cultural do País. Segundo Tânia Brandão, pesquisadora de história do teatro e professora da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Uni-Rio), no início do século XX o ator e produtor Jardel Jércolis já havia viajado pela América Latina com o teatro de revista. Orfeu da Conceição, peça escrita em 1954 por Vinicius de Moraes, com músicas de Tom Jobim, ganhou uma adaptação cinematográfica assinada pelo diretor francês Marcel Camus, vencedora do Oscar de melhor filme em língua estrangeira e da Palma de Ouro no Festival de Cannes. E Ópera do malandro, de Chico Buarque e Ruy Guerra, teve duas temporadas de sucesso em Portugal. Para Tânia, o declínio do gênero aconteceu devido ao sucesso da música popular brasileira nas rádios, o que provocou um crescente afastamento dos palcos teatrais.

A recuperação foi demorada, dificultada pelo orçamento alto, característico dos musicais. "Assistimos a um retorno do filho pródigo", diz a especialista sobre o aumento do número de produções a partir do final dos anos 80.

O trabalho de Moëller e Botelho pretende justamente se afastar da associação direta entre MPB e musical e do que chamam de "fórmula nacionalista". Para Moëller, esse é um dos fatores que explicam a boa recepção de suas obras lá fora. "Não estamos nos fantasiando de Carmem Miranda. Somos brasileiros com nossas idiossincrasias. Isso está nos fazendo universais", diz ele. O diretor acredita, contudo, que deu um toque latino à montagem de A noviça rebelde, com personagens mais calorosos do que os europeus. E isso sem mexer no texto original. Em cartaz desde maio, a produção orçada em R$ 9 milhões já foi vista por mais de 90 mil pessoas. Na opinião de Botelho, apesar de serem espetáculos grandes e caros, os musicais encontram hoje uma abertura maior no mercado brasileiro do que há 15 anos, quando a dupla começou a carreira. Naquela época, a tecnologia era pequena e não conseguia atrair o público sedento de novidades. "A importação de peças estrangeiras foi fundamental para dominarmos essa parte tecnológica", diz. Diretor de sucessos como Splish splash, Perfume de Madonna e Os sete brotinhos, Flavio Marinho acredita que a produção nacional do gênero já começa a desenvolver uma linguagem própria. "Graças ao sucesso dessas montagens, uma geração de atores, autores, cenógrafos e diretores está se profissionalizando na arte de montar musicais." E isso explicaria sua ressonância internacional.

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