Há muito tempo, Jack Nicholson parece encarnar o mesmo personagem. Exibindo o onipresente sorriso cínico sob os inseparáveis óculos de sol em Alguém tem que ceder (Something’s gotta give, Estados Unidos, 2003) – cartaz nacional na sexta-feira 12 –, o ator se confunde com sua própria persona pública. Na pele de Harry Sanborn, 63 anos, um executivo de uma gravadora do segmento do rap, ele se vangloria de só levar para a cama mulheres com idade inferior a 30 anos. Até encontrar a cinquentona Erica Barry (Diane Keaton), escritora de teatro divorciada e mãe de sua mais recente conquista, que passa o tempo encerrada numa mansão de East Hampton, praia de endinheirados nos arredores de Nova York.

A diretora Nancy Myers, de Do que as mulheres gostam, criou os papéis principais para a dupla, que não contracenava desde Reds (1981). Usuário de Viagra, Sanborn tem um ataque cardíaco nas preliminares de uma transa com a filha de Erica ao som de Let’s get it on, de Marvin Gaye. Passa o período de recuperação na mansão dela. É quando ele e a mãe da namorada engatam um romance entre farpas de diálogos bem-humorados, a exemplo daquele no qual Sanborn argumenta que rap é poesia e Erica pergunta quantas palavras rimam com piranha, expressão cara aos rappers. Em inglês, o título do filme é o mesmo de uma clássica canção de Johnny Mercer, também homenageado pelo personagem de Julian Mercer (Keanu Reeves), cardiologista que se apaixona por Erica. Alguém tem que ceder, contudo, está longe das melhores comédias românticas do passado, embaladas por canções do gênero.