03/03/2004 - 10:00
Nunca se ouviu tanto sim ao mesmo tempo. No último dia 15, foi realizado no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo, o maior casamento comunitário já feito no Brasil. Nada menos que 1.434 casais trocaram 2.868 alianças no megaevento ministrado por 42 juízes. Embora fosse uma cerimônia civil, não faltaram vestidos de noiva, flores e bem-casados, elementos obrigatórios nos casamentos tradicionais. Longe dali, no entanto, a regra é quebrar o protocolo e ousar nos detalhes exóticos. Hoje, não basta distribuir óculos escuros e maracas para os convidados. A balada pop requer bandas extravagantes, bolos cada vez mais excêntricos e até shows de pirotecnia e malabarismo com garrafas.
O primeiro passo para resgatar o casamento da mesmice foi abdicar da marcha nupcial e substituir o repertório erudito por… rock! No casamento de Daniela Oliveira dos Santos e Leandro dos Santos, paulistas de 26 anos, ele cruzou a nave ao som de Unforgiven, da banda de heavy metal Metallica, e ela com o clássico How can I go on, famosa nas vozes de Freddie Mercury e Montserrat Caballé. Ao final, deixaram a igreja sob os acordes de Deep Purple. “Os convidados mais velhos me perguntavam que músicas eram aquelas”, conta Daniela. O som ganhou leveza na interpretação do grupo Violinos Vivart, com teclado, guitarra, percussão e violino elétrico. “A cerimônia vira uma introdução da festa. Normalmente, do primeiro ao último casamento realizados em uma igreja, só mudam os noivos. O resto é sempre igual”, reclama o violinista Adilson Ferreira dos Santos, líder do grupo.
Dez em cada dez casais querem que seu casamento seja inesquecível, tarefa árdua em uma ocasião que prima pelo tradicional, das roupas dos noivos ao carro antigo. Mas o resultado vale o empenho. Enquanto preparava seu casamento, a advogada paulista Trícia Braga, 28 anos, só ficou aliviada quando descobriu o Bertone’s Bartenders, uma empresa especializada em preparar drinques e realizar truques de balcão. “Queria que a festa ficasse com a minha cara. Sou baladeira e a maioria dos meus convidados era jovem”, conta a noiva, casada desde novembro com Napoleão Castanho, 33 anos. Ainda hoje, a noiva recebe os cumprimentos de amigos encantados com o espetáculo de malabarismo e pirotecnia realizado pelos bartenders à beira da piscina. A empresa contabiliza atualmente cerca de 40 festas por mês, sendo dez casamentos. “Se o salão tiver um pé-direito alto e nenhuma cortina perto da pista, fazemos o show no meio da galera”, diz a sócia Patrícia Romanatti.
Com o perdão do trocadilho, não é necessário contratar pirotécnicos para que a noite pegue fogo. Diretora de arte especializada em programação visual, a paulista Luana Gorenstein Cesana, 26 anos, decorou o salão com panos e luzes quentes, criou um lounge com pufes e selou o matrimônio com Marcelo Cesana, 28, em plena pista de dança. Os coquetéis e a música corriam soltos quando os noivos, acompanhados pelos pais, aproximaram-se do rabino no centro da festa e deram procedimento à cerimônia judaica. “As pessoas perceberam aos poucos o que estava acontecendo. Casei cercada
por amigos, sem cortejo nem nada”, conta. O ponto alto da noite foi o corte simbólico do bolo, em formato de carro conversível. “Quase desmoronei de surpresa. A noivinha estava com um vestido igual ao
meu, sentada com o noivinho no banco do carro. Fiquei sem coragem de cortá-lo”, diz. Sua mãe, a doceira Tereza Nigri, distribuiu doces pelas paredes, como se fossem telas em uma galeria de arte. O bolo ficou a cargo de Marcela Sanchez. “Até a última década, os noivinhos eram feios, feitos de plástico. Há dois anos, voltaram à moda com um estilo descontraído e cômico, esculpidos em açúcar. Já fiz até noivos na prancha de surfe”, conta Marcela.
Investimento – Mimos de todos os tipos servem como fermento para o mercado matrimonial. Em São Paulo, um casamento para 300 pessoas não sai por menos de R$ 20 mil.
Os noivos descolados desembolsam pelo menos o dobro. “No Brasil, acontecem em média 800 mil casamentos por ano. Curiosamente, esse número cresce em tempos de crise, como se a possibilidade de dividir despesas incentivasse a troca de alianças. Ainda assim, os noivos costumam investir pesado na produção da festa”, avalia a consultora Rosa Maciel, editora do badalado Guia de noivos. Cada momento fica registrado para sempre no álbum de fotografias. Aliás, no quesito imagem, já não basta trocar as poses tradicionais por cliques espontâneos. A moda é levar para a festa profissionais munidos com câmeras digitais, laptop e impressora.
As fotos ficam prontas durante o evento e são distribuídas. “Nossos fotógrafos registram pelo menos uma vez cada casal ou convidado.
Todos recebem uma imagem sua, como se fosse uma lembrancinha,
com uma mensagem dos noivos gravada”, explica Ludmila Almeida Braga, sócia da Click & Take.
Outra novidade no universo dos flashes é a chamada foto de hotel. Antes do “enfim sós”, os noivos pagam para se submeter a uma maratona de fotos no hotel onde vão passar a noite de núpcias. Foi esse o filão descoberto pelo fotógrafo Paulo Constantino, dono da Craftwork, de São Paulo. “Meu trabalho é acabar com a noite de núpcias. Normalmente, os noivos chegam ao hotel depois das duas da madrugada e, a partir daí, retoco a maquiagem e começo a sessão de fotos, que nunca dura menos de uma hora. Se tenho mais de um casal para fotografar, sempre vejo o sol nascer antes de concluir a sessão”, conta. Paulo já ficou amigo dos recepcionistas que fazem plantão em hotéis de São Paulo como o Sofitel e o Crowne Plaza. “Vale a pena. O hotel é muito mais bonito do que qualquer praça ou bufê”, conta Taísa de Lucas Ribeiro Geraldini, 26 anos, casada desde maio com Willians Geraldini, 27. Na noite de seu casamento, Paulo estava fotografando um casal em outro hotel quando Taísa e Willians chegaram. “Subimos para o quarto para esperar e pegamos no sono antes de ele chegar. Mas deu tudo certo. São as fotos mais lindas do álbum. Acabei tomando café da manhã vestida de noiva”, conta Taísa. O resto, é melhor manter em sigilo.