Palocci versus José Dirceu
Um assunto que deixa o Palácio do Planalto de cabelo em pé:
com o escândalo Waldomiro Diniz, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, agora está livre da oposição interna à política econômica praticada pelo ministro José Dirceu. Mas o economista Paulo
Nogueira Batista Junior, respeitadíssimo no PT, mexeu no vespeiro. Escreveu um artigo que está sendo leitura obrigatória no partido.
Ele lamenta o enfraquecimento de Dirceu: “Digamos que, para
certos setores e certos interesses, foi uma coincidência de rara felicidade. O resultado final pode ser o fortalecimento relativo de
uma equipe econômica pró-mercado financeiro dentro de um
governo enfraquecido e diminuído. Já vimos esse filme algumas
vezes. É do tipo que passa em reprises sucessivas na sessão da tarde, com elenco sofrível e enredo rigorosamente previsível.” Diz mais o sombrio Nogueira Batista: “Me parece crucial o impacto do escândalo sobre a distribuição do poder dentro do governo. A redistribuição tende a fortalecer a área econômica e, dependendo da duração e do alcance da crise política, pode desembocar na domesticação completa e definitiva do governo Lula.”

Crise político-econômica

Na contabilidade da crise, assessores do ministro da Fazenda, Antônio Palocci, já admitem que foi perdido um semestre. A expectativa era de que, após o arrocho de 2003, esse ano começasse já com a retomada do crescimento. Com o Waldomirogate, na melhor das hipóteses, fica tudo adiado para o segundo semestre. Na pior das hipóteses, nem no segundo semestre. Aí, Lula terá perdido dois anos, metade de seu governo.

CPI da encrenca

Enquanto trabalha para abafar a CPI do Waldomirogate em Brasília, o PT anda preocupado com a sua similar no Rio de Janeiro. É que, na terça-feira 2, será instaurada a CPI da Loterj, que vai investigar a atuação de Waldomiro Diniz nas loterias do Estado. Junto com a CPI da Rioprevi, que vai apurar um prejuízo de R$ 25 milhões em aplicações no mercado financeiro durante a gestão Benedita da Silva. Pior, com tudo transmitido ao vivo pela Net, no canal 12 de tevê da Assembléia Legislativa do Rio.

Ibama manso e caro

No último ano do governo FHC, o Ibama lavrou quase 28 mil multas contra crimes ambientais, arrecadando R$ 346 milhões. Para isso,
os fiscais gastaram R$ 13 milhões. No primeiro ano do mandato
petista, foram registradas apenas oito mil multas e a arrecadação
caiu para R$ 167,4 milhões. Atuando no governo, os dirigentes das
ONGs ambientalistas estão mais mansos. Só não economizaram em dinheiro: o custo petista por multa lavrada em 2003 foi 191% maior
que o do último ano do governo tucano.

A gelada do lobby

A guerra entre a Dolly e a Coca-Cola foi parar na Secretaria de Defesa Econômica (SDE). Mas quem anda preocupado mesmo é o Palácio do Planalto. Descobriu-se que, além do velho Alexandre Paes Santos – o APS –, o lobby dos refrigerantes em Brasília conta com figuras de
peso do marketing governista.

Rápidas

• Cresceu na crise o petista João Paulo Cunha. Agora, não há no partido quem duvide de que o governo trabalhará por sua reeleição para presidente da Casa. Junto com Sarney no Senado.

• Escaldado pelo escândalo Bispo Rodrigues, o chefão da Igreja Universal, bispo Edir Macedo, mandou que sejam feitos rodízios entre os bispos de seu grupo em todos os Estados.

• No Planalto, quem mais tem feito força a favor de José Dirceu é a primeira-dama Marisa Letícia. Ela e Dirceu faziam tabelinha na marcação das audiências de Lula após o almoço.

• Quem lembra é o jurista Saulo Ramos: a medida provisória dos Bingos, chamada MP 168, tem o mesmo número da MP que, no governo Collor, confiscou a poupança.

• A Universidade de Brasília vai oferecer o primeiro curso sobre parceria pública e privada (o PPP) do País. Começará a partir de 15 de abril e será voltado para a área de Transportes.