25/02/2004 - 10:00
Dono de um programa nacional de combate à Aids festejado no mundo todo como modelo de controle da doença, o Brasil dá sinais de que está começando a virar o jogo em outra frente de batalha. De acordo com dados do Ministério da Saúde, está aumentando o uso de camisinha – uma das principais formas de evitar a transmissão do HIV, o vírus causador da enfermidade. A informação é resultado de algumas pesquisas. Uma delas é inédita e foi feita pelo Ministério, em conjunto com o Exército, entre 1997 e 2002, com 33.851 mil rapazes de 17 a 21 anos que estavam na fila de alistamento. Verificou-se um aumento do uso regular de preservativos de 37,6% para 48,3% de 1999 para 2002. Outra foi realizada no ano passado pelo Ibope, a pedido do governo, com 1,8 mil brasileiros. A constatação foi a de que 79% dos entrevistados usaram preservativos com parceiros eventuais na última relação. Em uma investigação semelhante concluída em 1998, 64% dos participantes disseram ter se protegido. E 57,8% relataram utilizar o preservativo sempre, contra 21% na sondagem anterior.
Há outros indicativos. Um levantamento do Instituto A.C. Nielsen – uma consultoria de mercado – mostra que de 1998 a 2000 houve um aumento de 86,5% na venda de preservativos na periferia da região metropolitana do Rio de Janeiro, de 60% em Mato Grosso do Sul, Goiás e Brasília, e de 34% em Minas Gerais, Espírito Santo e na cidade do Rio. Os progressos na maneira de encarar a camisinha podem também ser constatados nas primeiras reações das populações envolvidas no projeto do Ministério da Saúde de distribuição de preservativos em escolas públicas. O trabalho começou no segundo semestre de 2003 em municípios de São Paulo, do Paraná e do Acre.
Informação – O que mais surpreendeu o coordenador, Paulo Lustosa,
foi a reação dos pais dos alunos. “Apesar da resistência inicial, a maioria concordou com a medida depois de conhecer os índices da Aids e a incidência de gravidez e abortos entre as jovens”, explica. De fato, o temor causado pelo HIV é o grande responsável pelo aumento no uso
da camisinha. Na enquete Jovem e Sexo, encomendada ao Ibope
Solution pelo laboratório Wyeth – fabricante do anticoncepcional
Minesse, de baixa dosagem hormonal –, 92% dos dois mil entrevistados
de 15 a 25 anos disseram ter muito medo de contrair a doença. A pesquisa também apontou a camisinha como o método contraceptivo preferido dos jovens: 52% dos 1.505 que disseram já ter transado optaram por ela entre 14 alternativas.
Essas evidências entusiasmam. Mostram que boa parte da população entendeu a importância de se proteger usando um instrumento simples e absolutamente eficaz. No entanto, para vencer a guerra contra a Aids, o índice de uso de camisinha precisa aumentar muito mais. “As taxas de contaminação ainda estão altas, embora não subam com a velocidade do início da epidemia”, afirma Carlos Alberto Morais de Sá, diretor do Programa de Pesquisa em Aids do Hospital Gaffrée e Guinle, no Rio de Janeiro. De 1980 a setembro de 2003, 277 mil pessoas já se contaminaram no Brasil.
Por trás das justificativas de quem se recusa a usar a camisinha estão velhos preconceitos. É o que mostra enquete feita este ano pelo Fala São Paulo por meio de 134 centros de informática instalados no Estado. A pesquisa ouviu 1.448 pessoas: 33% dos homens que não usam preservativo alegam “preconceito ou vergonha”, 32% dizem que é por “falta de informação” e 30% acham que ele “quebra o clima”.