Tudo importado, é claro. Como o Spray Net, que empertigava os cabelos da turma. Topetes e coques bolo de noiva estavam em alta e quem não podia se dar ao luxo de ter um laquê, tinha de se virar improvisando um penteado com as mãos cobertas de sabão. Pose e glamour eram fundamentais para quem queria ser bacana. Havíamos há pouco superado o fim trágico do governo de Getúlio Vargas e o País entrava num período de prosperidade e grandes realizações. O entusiasmo cor-de-rosa da década de 50 foi o pano de fundo dos anos JK. O presidente era bossa-nova e o Brasil campeão do mundo. A esperança e o otimismo embalavam um país eufórico por um período de um desbragado crescimento de 7,8% ao ano. Juscelino Kubitschek (1902-1976), que fora o governador desenvolvimentista de Minas Gerais, foi eleito presidente da República em 1955. Jussa, como muitos eleitores o chamavam, apostou pesado na instalação da indústria automobilística, abriu 20 mil quilômetros de rodovias, três mil de ferrovias, aumentou 15 vezes a produção de petróleo e ergueu as hidrelétricas de Furnas e Três Marias. A empresa nacional mais importante foi a Fábrica Nacional de Motores (FNM), instalada em 1942. Os carros que saíam de suas linhas de montagem eram chamados de fenemê e havia inclusive um modelo JK. As moças tremiam sobre o salto brotinho quando batiam os olhos nos rapazes que chegavam a bordo de um carrão. Os automóveis deram lugar ao começo de muitos romances. E namoro de gente séria parava num entrelaçar de dedos. Ao vislumbrar a mão do moço sobre os ombros da namorada, as senhoras logo indagavam se o noivado já fora anunciado. Juscelino era mesmo um presidente tranchã. E ainda teve a ousadia de levar a cabo a construção da nova capital, em lugar do Rio de Janeiro. Ergueu a cidade num chapadão do Planalto Central em três anos e dez meses. "JK ia a Brasília ao menos uma vez por semana e chamava os peões pelo nome", lembra o subchefe da Casa Civil, Affonso Heliodoro dos Santos. O projeto era um gesto típico de uma personalidade empreendedora como JK. Sua confiança contaminou muitos. À época, modelitos de saia balão eram confeccionados com tecidos que estampavam as colunas do Palácio da Alvorada, símbolo da nova capital. Mas, embora os resultados do plano de metas de JK fossem extraordinários – o valor da produção industrial do período foi turbinado em 80% -, nem tudo em seu governo foi um mar de rosas. O programa de industrialização e a construção de Brasília custaram caro ao País. E muito. O déficit pulou de 1% do PIB em 1954 para consideráveis 4% em 1957. O governo estava gastando mais do que arrecadava, o que acelerou as taxas de inflação. Nas eleições de outubro de 1960, JK não conseguiu entusiasmar as massas com seu candidato, o general Lott, dando espaço para a vitória de Jânio Quadros. Dono de uma habilidade incomum para conquistar as pessoas, o presidente pé-de-valsa era um homem capaz de construir catedrais em silêncio. "Política é esperança", disse certa vez ao pé do ouvido do amigo Ulysses Guimarães. O menino pobre descendente de um imigrante tcheco foi longe na política e encontrou a morte num trágico acidente de carro em agosto de 1976, na via Dutra, estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro.