25/02/2004 - 10:00
Um desfile de ações judiciais jogou no limbo a mais glamourosa agência de modelos do planeta. Há 35 anos no mercado, a Elite Model Management tornou público na segunda-feira 16 seu pedido de concordata, em uma tentativa desesperada de proteger-se de vários processos na Justiça americana, que superam os US$ 7 milhões. Se for condenada a pagar a conta e decretar falência (prevista no artigo XI da legislação americana), como se comenta no mercado, a agência poderá deixar desabrigadas supermodelos do porte de Gisele Bündchen, Naomi Campbell e Cindy Crawford. “A concordata vai permitir que coloquemos nossos modelos e agentes em primeiro lugar”, justificou em um comunicado Monique Pillard, que, junto com John Casablancas, fundou a Elite em 1971, em Paris.
Os negócios no Brasil e em outros países onde a Elite possui escritórios, segundo informações da própria companhia, não serão afetados, já que trabalham com total independência administrativa e financeira. No caso do escritório brasileiro, funciona como uma empresa licenciada que paga anualmente royalties pela utilização da marca. Também em comunicado, a Elite Brasil esclarece que o pedido de concordata é exclusivo da companhia em Nova York, sem nenhuma repercussão para os escritórios em outros países. A Elite chegou ao Brasil pelas mãos do próprio Casablancas, que, junto com os sócios Ricardo Bellino e Nelson Alvarenga (dono da Ellus), fundou a empresa em 1988. Dois anos depois, o negócio foi vendido para o empresário Romeu Ferreira Leite, que toca a empresa até hoje.
A decisão da Elite de Nova York de recorrer à concordata foi motivada basicamente por duas ações que correm na Corte americana. Uma delas é a de uma ex-funcionária demitida por reclamar da fumaça dos cigarros nos escritórios da empresa. Victoria Gallegos, 32 anos, que sofre de asma, quer receber a bagatela de US$ 5,2 milhões como indenização pelos possíveis males causados à sua saúde por ser fumante passiva. O outro processo diz respeito a uma ação coletiva movida contra várias agências, entre elas a Elite, por formação de cartel na definição do preço de comissão de modelos e agentes. A empresa recorreu em todos os processos, mas sua situação não é nada confortável.
“A Elite fez exatamente o que tinha de fazer. O pedido de concordata é algo completamente artificial, mas é a única proteção que a agência tem contra as ações que enfrenta na Justiça”, disse Casablancas de sua casa em Miami a ISTOÉ. Ele está fora da Elite desde que vendeu suas ações para um grupo suíço em 1999, depois da divulgação de um documentário explosivo, produzido pela BBC de Londres, que mostrou diretores da Elite seduzindo modelos, usando drogas e demonstrando racismo. Mesmo assim, admite que o lado ruim do pedido de concordata é a posição dos concorrentes, que se aproveitam da frágil situação da empresa e espalham boatos de que a agência de modelos está deixando o mercado.