Ele tinha tudo para ser um político exemplar. E o foi, nos primeiros meses de mandato, em 2003. Procurador da Fazenda Nacional, Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior foi eleito senador pelo PSB do Acre em 2002 carregando muito carisma. Era a revelação da eleição no Estado. Geraldinho brigou no partido e entrou para o PSOL. Foi cotado para candidato a vice-presidente da República na chapa da candidata Heloísa Helena, mas hoje oferece uma coleção de decepções a seus eleitores. A primeira: Geraldinho tinha 12 parentes contratados no gabinete. Ele pediu desculpas à Nação e demitiu todo mundo. Veio a segunda decepção: o senador cobrava 40% dos salários dos servidores. Ele foi convidado a sair do PSOL e entrou no PMDB para não perder o mandato. Agora, a terceira decepção: Geraldinho entregou várias notas fiscais frias ao Senado para engordar o próprio bolso. Notas fiscais sem a devida prestação de serviço ou entrega de produto. Quem revela o esquema de notas frias é a ex-chefe do escritório de Geraldinho no município de Sena Madureira, Maria das Dores Siqueira da Silva, a Dóris, 45 anos. Ela reclama que foi demitida pelo senador como se fosse ladra, mas esclarece que pegava todas as notas fiscais frias a pedido do senador. “Foi humilhante demais”, diz Dóris. “Hoje, estou vendendo minhas roupas para comprar alimento.”

A ex-chefe do escritório de Geraldinho guarda na memória todos os nomes dos locais onde teve de pedir notas frias, sem a prestação de serviços ou a entrega de produtos. Uma das lojas que forneceram notas frias para o senador, diz ela, é a Requinte Presentes. “Eu só pegava a nota, não era comprado nada”, diz. “Uma das notas era de mil e poucos reais.” Outro local onde Dóris pegou várias notas foi na Churrascaria do Regilson, próxima de sua residência. Mas foi no Posto Iaco que ela diz ter recolhido várias e várias notas frias, de fornecimento de combustível. “Às vezes era nota de R$ 150, às vezes era de R$ 250, às vezes tinha valor maior.” Detalhe: não havia carro no escritório de Geraldinho em Sena Madureira. “Os taxistas pegavam as notas para mim”, explica Dóris. “Eu repassava só com o valor”.

Dóris reclama ter sido trancafiada em uma chácara com a filha, 16 anos, na época em que o senador foi acusado de cobrar mensalinho dos servidores. Em gravação feita por outro servidor, ela confirmou ter dado parte de seu salário para o chefe. Ela chegou a prestar depoimento ao Conselho de Ética do Senado, mas na época não confirmou o mensalinho. Hoje, Dóris diz ter sofrido tortura psicológica junto com a filha numa chácara, onde foi visitada pela esposa de Geraldinho, Maria Helena. “A minha filha é quem escrevia tudo o que a mulher dele mandava e aí eu tinha que decorar para dizer no Conselho de Ética.” O senador Geraldo Mesquita foi informado das acusações feitas por Dóris na quarta-feira 29. “Ele não está querendo falar com ela não”, diz o assessor de imprensa de Geraldinho. “Parece que essa mulher é mau caráter.” Dóris rebate: “Eu acho que o senador tem dupla personalidade e um pouco de desequilíbrio também.”