17/07/2002 - 10:00
Na semana passada, muitas mulheres se assustaram com a notícia de que a terapia de reposição hormonal (TRH), método que combate os sintomas da menopausa, trazia sérios riscos à saúde. A informação foi dada por jornais do mundo todo. O problema é que, nesse caso, o alerta – dado com base num estudo patrocinado pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos – mais tumultuou do que esclareceu.
De fato, a pesquisa revelou uma ameaça importante. Um determinado tipo de TRH aumentou em 29% o risco de ataques cardíacos num grupo de pacientes que vinha sendo estudado havia cinco anos. Além disso, o risco de essas participantes desenvolverem câncer de mama cresceu 26%. O estudo com essa terapia específica, que deveria durar até 2005, foi interrompido em razão das descobertas. Mas isso não quer dizer que toda reposição hormonal seja perigosa. A razão é simples: há várias formas de TRH. Na opinião de César Fernandes, presidente da Sociedade Brasileira de Climatério, não se deve extrapolar a pesquisa e tentar imaginar o que aconteceria com outros tipos da terapia. “A TRH não é uma modalidade única”, diz.
A reposição alivia os sintomas do climatério (fase que antecede a última menstruação, a menopausa), causados pela diminuição gradativa e fim da produção dos hormônios estrógeno e progesterona. Entre eles está a secura vaginal (leia mais no quadro). Outra aplicação é o auxílio na prevenção da osteoporose (redução da massa óssea). Nem sempre a TRH repõe os dois hormônios. Há tratamentos feitos apenas com estrógeno, os que adotam as duas substâncias em períodos alternados e as terapias nas quais são administrados os dois hormônios ao mesmo tempo. Além disso, existem diversas opções de hormônios e formas de apresentação dos remédios (pílula, gel e adesivo, por exemplo).
O estudo interrompido pelo instituto americano envolveu a terapia combinada (estrógeno e progesterona) e contínua (consumo diário) por via oral, feita durante cinco anos. As doses usadas foram altas. E as pacientes tinham, em média, 63 anos quando iniciaram esse tratamento. Detalhe indispensável: o estrógeno era o extraído da urina de éguas grávidas. Na medicina, ele é chamado de estrógeno conjugado equino (ECE), que não é tão adotado no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Os especialistas sabiam que todo tipo de TRH, dependendo do
tempo de duração e se envolvia o uso da progesterona, trazia um
risco relativo de câncer de mama. “Por isso, a terapia já tinha de ser aplicada de acordo com cada mulher”, explica Fernandes. O que surpreendeu os médicos foi o risco cardíaco provocado pela terapia combinada contínua com ECE. “Trabalhos anteriores apontavam que a TRH diminuía a ameaça de doenças cardiovasculares. O estudo americano demonstrou que, nesse tipo de terapia, ela não melhora a proteção do coração. Piora”, completa José Aristodemo Pinotti, professor de ginecologia da Universidade de São Paulo.
Pinotti aconselha que pacientes com fatores de risco para o
coração (hipertensão, por exemplo) suspendam o tratamento – mesmo que ele seja baseado na combinação de estrógeno natural com progesterona. O médico orienta ainda que as doses devem ser menores para mulheres com mais de 60 anos. “Para mim, o mais importante do alerta é o risco da reposição em doses elevadas. Há cerca de quatro anos, estamos dando no Hospital das Clínicas quantidades menores às pacientes mais velhas e elas estão se dando bem”, conta Pinotti. A palavra final do ginecologista é calma. Dúvidas devem ser tiradas com os especialistas. A dica serve para todas, inclusive as mais jovens, que não foram objeto da pesquisa americana.