17/07/2002 - 10:00
A febre da música eletrônica definitivamente extrapolou o platônico culto aos DJs. Não satisfeitos em acompanhar seus ídolos por clubs e festas raves, os fãs dos disc-jóqueis passaram a apostar com mais fervor na discotecagem. Ficar olhando, já não basta. É preciso tocar. Nas principais capitais brasileiras cresce o número de pessoas que buscam cursos para aprender a técnica ou que, a convite de algumas casas noturnas, decidem virar DJs por uma noite. A boate carioca Baronneti, por exemplo, descobriu que convidar artistas para tocar é uma boa forma de garantir a lotação das pistas de dança. No hall de famosos que se transformaram em “DJ por uma noite” na casa, estão beldades como a modelo Daniella Sarahyba. Em São Paulo, há cerca de um ano, clubs como A Lôca e o Ultralounge abrem suas pick-ups (toca-discos) pelo menos uma vez por semana para convidados especiais. Mas o fascínio da discotecagem atingiu proporções tão grandes que alavancou a procura pelos cursos de discotecagem. O DJ Ramilson Maia, de São Paulo, que o diga. Viu seu quórum de alunos aumentar oito vezes nos últimos dez anos. “Quando comecei a dar aulas, tinha três aspirantes a DJ por semana. Hoje são dez por dia”, contabiliza.
Produção – Há dois anos, Ramilson montou com os DJs Guilherme Lopes e Júnior Deep o estúdio-escola Hangar 15. Ali, os interessados em aprender a tocar ou produzir músicas eletrônicas desembolsam cerca de R$ 300 por um curso com duração de dois meses. E – garantem os mestres – saem capazes de montar ou tocar seu próprio repertório. Os verdadeiros papas das pick-ups, como Marky e Patife, não só tocam, mas produzem seu próprio som. Fazem samplers (cortes e colagens musicais) e mixagens (mistura de sons), muitas vezes transformando em música eletrônica outros ritmos, como a bossa nova ou o jazz. Por isso os melhores cursos da praça ensinam a técnica da produção e da discotecagem em módulos separados. O paulistano Howard Weiss, 18 anos, já tinha feito o curso de DJ quando decidiu encarar as aulas de produção do Hangar 15 há cerca de um ano. “Mais do que tocar, gosto de fazer as músicas”, explica o pupilo de Ramilson. O jovem aprendeu tão bem a lição que duas composições suas já fazem parte do set list (repertório) de seu professor.
Ex-aluno dos DJs cariocas do BUM (Brazilian Underground Moviment), o estudante de comunicação Rodrigo Pinheiro, 22 anos, também é uma mostra de que os cursos cumprem seu papel. Há seis meses, Rodrigo, que nunca tinha posto a mão numa pick-up, teve aulas com os DJs Halley Siedel e JJJonas. Hoje dá suas canjas pela noite carioca. “Sempre que posso toco nas festas de amigos e nas boates”, conta. Apesar de ainda não ter dinheiro para montar sua própria mesa de som (leia quadro abaixo), Rodrigo já está tão afinado com a nova profissão que passou a organizar as baladas da sua faculdade. “Até o final do mês, faremos uma espécie de chopada-rave. Muito chope e muita música eletrônica”, vibra.
Apesar da popularização da discotecagem, muitos DJs ainda têm receios de ensinar a técnica para leigos. Temem, com razão, que a verdadeira música eletrônica de qualidade perca sua força. Esse pensamento, entretanto, não constrangeu em nada a modelo Daniella Sarahyba, que fez sua primeira performance como DJ há duas semanas na Baronneti. “Foi um sucesso de público. A noite mais cheia desde a criação do evento, e devemos repetir a operação”, adianta Isabela Menezes, promoter da Baronneti e criadora da idéia de transformar famosos em DJs por uma noite. Veterana das passarelas, mas caloura no comando das baladas, Daniella treinou bastante “para fazer bonito na estréia”. “Gosto muito de house music e grove, mas aceito sugestões. Isso cativa o público”, ensina. Além de Daniella, já entraram para a galeria de DJs por uma noite as atrizes Adriana Garamboni, Alexia Deschamps, Cássia Linhares e Guta Stresser. Mas a onda não pára por aí. A Baronneti promete para os próximos eventos Maria Paula e Rita Guedes
Na contramão da tecnologia que teima em transformar o bom e velho disco de vinil em relíquia obsoleta, os maiores DJs do planeta fazem de tudo para não deixar que os CD-players substituam os clássicos toca-discos. Depois da febre dos compact-discs, foram os disck-jóqueis que não deixaram os long-plays sumirem de vez. Apesar de já existirem aparelhos de discotecagem supermodernos com toca-cds, os CDJ, como o utilizado pela modelo Daniella Sarahyba, que custa cerca de R$ 4 mil, os DJs de verdade não trocam as pick-ups por nada. “A arte da discotecagem está justamente em mixar manualmente as músicas. Apertar botões, qualquer um pode”, explica o DJ Ramilson Maia. A brincadeira com os LPs, entretanto, não é para o bolso de qualquer um. Um set (mesa de som) padrão com duas pick-ups, um mixer (aparelho que ajuda na passagem de uma música para outra) e um fone de ouvido não saem por menos de R$ 7 mil. Na loja paulista The B Side, o par de pick-ups Technics MK2 custa R$ 4,3 mil, um mixer da Pionner, R$ 1,7 mil e um bom fone de ouvido que dá ao DJ o retorno das músicas sai por R$ 1,2 mil. O barato, sem dúvida, sai caro.