17/07/2002 - 10:00
Não dá para ignorar. O mercado de trabalho é hoje um pesadelo até para os profissionais qualificados. O índice de desemprego bate os 6,2% e o porcentual de trabalhadores sem carteira assinada é de 41,3%, de acordo com levantamento da Unicamp. Só em São Paulo, segundo a Fundação Seade, são 1,85 milhão de pessoas sem emprego. A saída para quem vive do salário, tem qualificação e perdeu o emprego? Segundo especialistas, a principal munição do desempregado é a informação. E quem tem informação sabe: a defesa do meio ambiente virou uma mina de ouro de empregos. Deixou de ser exclusividade das organizações não-governamentais e agora é preocupação das empresas. Não que os empresários subitamente tenham se tornado militantes ecológicos. O engajamento empresarial veio da criação da certificação internacional ISO 14000, que dita regras de preservação ambiental e cujo descumprimento poderá excluir a empresa de importantes negócios em todo o mundo. Em outras palavras: a defesa da natureza virou um trunfo no mundo dos negócios. A consequência é que muita gente está sendo contratada para exercer várias atividades profissionais na área. “Esse movimento está começando e vai ser um grande gerador de empregos”, confirma Luiz Claudio Castro, gerente de meio ambiente da CSN. O governo federal calcula que 500 mil vagas relacionadas à ecologia serão criadas nos próximos três anos. Nunca uma boa causa gerou tantos empregos.
A procura por profissionais é tão grande que as próprias empresas estão tratando de dar qualificação aos seus funcionários enquanto não são criados cursos adequados. É o que acontece em grandes indústrias como a Kaiser, onde a paulista Samara Del Mirio, 24 anos, que está terminando o curso de engenharia de materiais, já ocupa o cargo de analista de gestão ambiental na cervejaria. “Fiz dois cursos na própria empresa”, diz ela. Além de engenheiros, a atividade absorve biólogos, geólogos, agrônomos, oceanógrafos e advogados (dada a importância crescente do direito ambiental). “É tudo muito recente, as empresas estão começando a criar funções para atender às exigências do ISO 14000”, diz Marcelo Szpilman, diretor do Instituto Aqualung, que mantém cursos de introdução à gestão ambiental. “Como falta uma preparação específica para essas tarefas, uma saída para entrar nesse mercado é fazer cursos de especialização”, sugere Soraia Gomes, coordenadora da Gestão de meio ambiente da indústria de bebidas gaúcha Allied Domecq.
A preservação da natureza criou outra ilha de empregos: o turismo, especialmente o ecoturismo, que leva viajantes a florestas tropicais, locais de flora e fauna preservados, praias paradisíacas… e que, segundo a Associação Brasileira de Ecoturismo, cresceu 10% ao ano de 1994 a 1998. No mundo, essa modalidade de turismo movimenta quase US$ 238 bilhões. No Brasil, o apelo turístico baseado na preservação e conservação da natureza faz com que o setor de turismo como um todo cresça a uma média de 3,5% ao ano. Os investidores estrangeiros adoram esse cenário, tanto que, segundo dados da Embratur, investem a média anual de US$ 6,04 bilhões na atividade turística do País. Resultado: o número de empregos está se multiplicando no setor.
A rede francesa de hotéis Accor, por exemplo, que administra entre outros o Sofitel e o Mercury, tem 120 unidades e quase seis mil funcionários: no ano passado construiu 27 hotéis e criou 1.100 empregos diretos. Há vagas em todos os níveis, da diretoria a cargos operacionais, como o ocupado por Silvia Haddad, 31 anos, governanta do Hotel Mercury, em São Paulo, formada em hotelaria com especialização no Senai. “A remuneração é boa, o trabalho é duro e exige dedicação integral”, diz. Para este ano, o grupo Accor prevê a construção de outros 19 hotéis e a admissão de cerca de mil empregados. “Nossa expansão está apenas começando”, diz Vera Lucia da Costa, diretora de recursos humanos da rede.