17/07/2002 - 10:00
Os candidatos ao Palácio do Planalto aspiram ao poder e à glória do cargo, mas por eles também espera pesada solidão, que se revelará durante os quatro anos de mandato. Em agosto, chega às livrarias uma preciosidade que agradará tanto aos amantes da fotografia quanto aos interessados em decifrar a mística do poder visto pelas lentes do fotógrafo Orlando Brito, que reúne no livro Poder, glória e solidão (Terra Virgem, 310 págs., R$ 130) um acervo exclusivo de imagens dos que transitaram por Brasília desde 1966. Trata-se de uma coletânea cuidadosa dos 36 anos de trabalho deste respeitado repórter-fotográfico, que iniciou carreira aos 16 no jornal Última Hora. O amplo acesso aos gabinetes brasilienses, o talento e o espírito crítico permitiram a Brito colher instantâneos únicos dos momentos mais importantes da história da política brasileira – de Castelo Branco a Fernando Henrique Cardoso.
Durante este período, ele estampou nas páginas dos maiores jornais e revistas do Brasil fotos memoráveis, que causaram espanto, orgulho, raiva e vergonha. Expôs a crueldade da ditadura militar sob o comando do general Emílio Garrastazu Médici e o início da abertura democrática, em 1979, no governo de João Baptista Figueiredo. Com olhar crítico, documentou o fracasso da campanha das diretas, em 1984, e a agonia de Tancredo Neves, em 1985. Acompanhou as aventuras e desventuras de Fernando Collor, e a transformação do sociólogo Fernando Henrique Cardoso em presidente. Entre vários registros, os dois aparecem em sugestivos momentos espelho, espelho meu.
Orlando Brito persegue o princípio de que o fotógrafo “é o elo entre o acontecimento e o leitor”. Por isso, sempre procurou retratar o poder e os poderosos em todos os seus aspectos. A partir de agudas observações, Brito criou a tese de que as articulações dos grupos políticos são fundamentais para levar um presidente ao Planalto. Mas
é em Collor que as palavras glória e solidão atingem o ápice. Em seu apogeu e declínio, o presidente rei, do marketing, e a primeira-dama Rosane Collor são retratados em cenas semelhantes no helicóptero que os transportava entre a Casa da Dinda e o palácio presidencial. É igualmente impressionante o perfil sombreado de Rosane segurando o livro Cem anos de solidão – clássico de Gabriel García Márquez – num quarto de sua casa, após o impeachment do marido.