25/02/2004 - 10:00
Em meio ao tiroteio político que dominou Brasília, o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi o felizardo portador da boa notícia. Na quinta-feira 19, ele reuniu a imprensa para comunicar um marco científico brasileiro, o nascimento do primeiro clone de um animal clonado. A bezerra Vitoriosa, da raça simental, veio à luz em 5 de fevereiro, mas só na semana passada é que os técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) resolveram torná-la uma celebridade.
A bezerra foi gerada a partir das células da pele da orelha de outra vaca nacional, Vitória, o primeiro clone bovino da América Latina. Nascida em 2001, Vitória tinha um ano de idade quando doou a célula que deu origem a Vitoriosa, sua cópia. Assim como qualquer animal clonado, o clone do clone não tem pai. Em compensação tem duas mães, a que lhe cedeu as células e a que a abrigou no útero durante os 293 dias de gestação.
Para que Vitoriosa viesse ao mundo, os pesquisadores da Embrapa produziram 35 embriões, implantados no útero de 17 “mães de aluguel”. Só um deles vingou. Esse baixo aproveitamento é comum. Em 1996, o cientista escocês Ian Wilmut fabricou 277 embriões para dar origem à ovelha Dolly, o primeiro clone gerado a partir de células de um animal adulto. Desde então, já se clonaram porcos, bois, ratos e macacos. Dolly morreu no ano passado, com sinais de envelhecimento precoce.
O Brasil não é novato na clonagem animal. Seu segundo clone, o novilho Marcolino, nasceu um mês após a bezerra Vitória. Seus criadores, da Universidade de São Paulo (USP), esperavam uma fêmea, mas, para sua surpresa, a cria era um macho. Por um erro no laboratório, as amostras foram trocadas e Marcolino nasceu de uma célula embrionária masculina. Em julho de 2001, nasceu outro clone, Penta, obra de cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que usaram células do rabo de uma vaca adulta. Penta morreu com um mês, de infecção generalizada.
O maior avanço nessa área está mesmo na Embrapa. Um dos criadores de Vitória e Vitoriosa, o cientista Rodolfo Rumpf explica que clonar
um clone não é só bravata. Seu objetivo é avaliar a saúde de Vitória. “Essa experiência nos mostra que, além de não ter problemas de
saúde, Vitória cresceu, entrou no cio, ficou prenhe e ainda sua célula foi saudável o suficiente para gerar outro animal”, explica Rumpf. No futuro, a intenção é usar essa técnica para produzir clones transgênicos, que são animais alterados geneticamente para ganhar resistência a doenças, aumentar a produção de leite e estimular a fabricação de proteínas com efeito medicinal, por exemplo. O passo seguinte é burilar as células para multiplicar animais com elevado valor genético ou aqueles ameaçados de extinção.