A quinta-feira, 1º de Maio, trará uma nova experiência e com certeza fortes recordações para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Será
este o primeiro Dia do Trabalho em que ele estará, digamos, do outro lado do balcão. Lula chegou à Presidência graças a uma exemplar, coerente e persistente luta em defesa dos trabalhadores contra a displicência e os desmandos dos governantes. Nasceu como líder em São Bernardo do Campo, no final da década de 70, em plena ditadura militar, e desde então vem apurando e afiando sua maestria na arte da negociação e do diálogo, em busca de uma sociedade mais justa. Se subisse ao palanque na próxima quinta-feira como metalúrgico e não presidente da República, teria muito do que reclamar. No Brasil de hoje existem 7,6 milhões de jovens desocupados, segundo dados coletados pela Fundação Seade/Dieese. O salário mínimo, parcos R$ 240, foi definido pelo próprio Lula, quando o aprovou, como mero “cumprimento de tabela”. Os juros, entre os maiores do mundo, emperram a produção
e sufocam as vagas de trabalho.

Como presidente da República, o discurso, sem dúvida, também será veemente e coerente. Lula não pode conformar-se com nada disso e dirá que a correção de rota está sendo elaborada e traçada para que, com o tempo, se chegue a soluções. E os indícios de que as correções estão sendo bem-feitas vêm da melhora de alguns importantes números. O dólar, por exemplo, está aparentemente estabilizado perto dos R$ 3 e o risco-país, que no ano passado chegou aos 2,5 mil pontos, hoje está abaixo dos 900, demonstrando a recuperação da importante credibilidade externa. Os focos inflacionários ainda exigem que os extintores sejam acionados com precisão e insistência. E, principalmente, o título de campeão mundial de juros altos não nos interessa nem um pouco. Eles têm que ser puxados para baixo para que o presidente possa, no 1º de Maio de 2004, subir ao palanque bem mais à vontade do que estará na próxima quinta-feira, quando ainda terá que bater na tecla de que “não se dá cavalo-de-pau com petroleiro”, como ele próprio já disse.