30/10/2002 - 10:00
No Estado que apresenta um dos menores índices de analfabetismo do Brasil, os gaúchos dificilmente estão em cima do muro e a alternância de poder é tendência histórica. O PT, que só agora chegou à Presidência da República, governa 35 importantes cidades gaúchas – sendo que a capital é administrada pelo partido desde 1988 – e o Estado, com Olívio Dutra, desde 1998. Podemos dizer, portanto, que nessas eleições os gaúchos também quiseram mudar. Só que, para eles, mudar significou tirar o PT do governo. A vitória do ex-deputado Germano Rigotto (PMDB), gaúcho de Caxias do Sul, porém, não pode ser traduzida simplesmente como o enfraquecimento do PT no Estado. Há outras explicações. Segundo o cientista político André Marenco, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, boa parte dos eleitores que Rigotto conseguiu conquistar não é antipetista, mas desaprova o governo Olívio Dutra (PT), que prometeu um governo de vanguarda, mas fez uma gestão “paroquial”, alinhada com alas à esquerda do partido. “Porque temos um eleitorado polarizado não significa que não há um eleitor mais moderado, que acaba sendo o fiel da balança”, diz o professor.
A guerrilha eleitoral travada no primeiro turno entre Tarso Genro (PT) e o ex-governador Antônio Britto (PPS) deixou o caminho livre para a escalada de Rigotto, que arrancou em terceiro lugar nas pesquisas com pífios 4%. Rigotto fugiu da rota de colisão. Não partiu para ataques e só mostrou propostas. No melhor estilo “paz e amor”, que afinal virou moda nesta eleição, Rigotto pregou a união entre governo e setores da sociedade, sem discriminação ideológica. Sua principal promessa é entrar na guerra fiscal para angariar todo tipo de investimento para o Estado. Para explicar o fenômeno que o alavancou do terceiro lugar nas pesquisas para o Palácio Piratini, empunha a bandeira branca: “Mostrei que a briga entre o brittismo e o petismo estava fazendo mal para o Estado. Nada de rancor, antiisso, antiaquilo, antipetismo. Nesses quatro anos, o PT brigou com alguns segmentos da sociedade, aquela coisa de governar só com iguais. Mostrei que na nossa realidade financeira não dá para governar sem trazer todos para junto do governo”, analisa o governador eleito, como se estivesse falando do pacto social de Lula. Parece que não haverá muito conflito entre o governo federal e o executivo rio-grandense, a julgar pela semelhança de discursos nesta campanha eleitoral.