30/10/2002 - 10:00
Eleito governador de São Paulo, não basta mais a Geraldo Alckmin gerenciar o espólio de Mário Covas. Nos últimos 18 meses, ele cuidou da herança administrativa do padrinho político, pautou sua campanha em uma recheada agenda de obras cuidadosamente elaborada pelo antecessor e conquistou o direito de permanecer mais quatro anos no Palácio dos Bandeirantes. Agora, conhecido o recado dado pelos eleitores, terá um desafio muito maior:
deverá assumir a herança política de Covas. Ou seja, terá que ser o tucano Geraldo Alckmin, liderança do PSDB que tem o poder de governar o Estado que abriga o maior colégio eleitoral do País e a principal fatia do PIB brasileiro. Embora tenha eleito uma razoável bancada de deputados federais, no plano nacional o PSDB paulista, berço do tucanato, sai das urnas bastante abatido com as derrotas de José Serra e José Anibal. No Estado, o PT elegeu a maior bancada da assembléia e Alckmin terá que mostrar seu lado político. Caberá a ele, ao lado do mineiro Aécio Neves e do cearense Tasso Jereissati, a missão de influir pesadamente na reestruturação do PSDB que restou das urnas. Se continuar a se pautar nos ideais de Covas, tudo indica que Alckmin marchará para uma política de aproximação com o PT, tanto nacional como local. “Agora é a hora de impor minha cara ao governo paulista, com prioridade para o crescimento econômico e o desenvolvimento, mas também é a hora de reestruturar o partido, buscar maior inserção nos movimentos populares e fazer uma política de centro-esquerda”, tem dito o governador eleito a seus principais assessores. “O Alckmin já avisou que não quer saber de terceiro turno”, diz o deputado estadual Edson Aparecido, um dos coordenadores da campanha tucana em São Paulo.
Para vencer a eleição, Alckmin descolou-se completamente de Serra, evitou deixar arestas com o PT de José Genoino e ecoou o discurso do entendimento como forma de superar a crise. O outro recado das urnas paulistas é que a vitória do tucano não representou uma total derrota do PT. Afinal, em meio a um eleitorado historicamente conservador, os petistas fizeram a maior bancada estadual e pela primeira vez levaram um candidato ao segundo turno na disputa pelo governo. E, para isso, Genoino conseguiu o feito de carimbar em seu currículo a façanha de derrotar o malufismo. “Também somos vitoriosos”, afirma o deputado Aloizio Mercadante, recém-eleito senador em São Paulo. Para o deputado, o fato de o PT ter perdido o governo estadual não vai afetar o relacionamento entre Alckmin e o futuro presidente. “Lula tratará com igualdade todas as administrações, independentemente do partido”, diz.