Pela cartilha petista, a forma de evitar um novo apagão pressupõe uma mudança no modelo energético nacional. O primeiro passo é não descartar nenhum tipo de geração de energia. Desde as fontes tradicionais, como termelétricas e hidrelétricas, até as alternativas, como a energia gerada a partir dos raios do sol e do lixo, todas podem preparar terreno para os esperados 5% de crescimento anuais da geração de eletricidade.

“O País precisa voltar a ter um planejamento energético, e isso deve ser feito por um órgão técnico, para depois ser submetido a um debate amplo”, explica Luiz Pinguelli Rosa, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e diretor da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da universidade. Um dos maiores especialistas brasileiros do setor, Pinguelli é o guru por trás dos planos de Lula. Segundo ele, as privatizações deixaram um saldo negativo, com elevação de tarifas sem aumento na oferta.

A crise energética nacional começou a se desenhar na década de 90. Enquanto a geração cresceu 28,5% de 1990 a 1999, o consumo subiu 44,6%, segundo dados do próprio governo. Para evitar a reedição do racionamento de 2001, o novo governo não vai descartar nenhuma opção, seja o gás natural, sejam as hidrelétricas, que usam a água, uma fonte renovável de energia muitas vezes acompanhada de grande impacto ambiental.

Espera-se para o início de 2003 o desfecho do último capítulo da novela nuclear. Pelo projeto original, fruto do acordo assinado em 1975 entre o Brasil e a Alemanha, o complexo de usinas de Angra dos Reis teria três unidades. A última delas, orçada em US$ 1,8 bilhão, deveria estar concluída em 1984, mas ainda está em fase de projeto. Um dos mais ferinos críticos da política nuclear nacional, Pinguelli adverte que, a princípio, o PT não é contrário à geração nuclear e não descarta Angra 3. “Ela será analisada da mesma forma que as demais fontes de energia”, diz.

Outro projeto polêmico que está em seus planos é a hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, Pará, com capacidade para gerar 11 mil megawatts de energia, o equivalente à Itaipu. Planejada na década de 80, a obra emperrou definitivamente nos anos 90, quando a Eletronorte, concessionária responsável por sua construção, fez os primeiros estudos das consequências ambientais.

O governo Lula promete financiar projetos de energias alternativas, como o uso do álcool (Proálcool), da energia solar e a eólica, que se vale da força dos ventos. Até o lixo e o bagaço de cana-de-açúcar serão analisados. Na prática, vale tudo para impedir que
o País fique de novo às escuras.