30/10/2002 - 10:00
Duas diretrizes pautam a agenda ambiental do governo Lula. A primeira, de ordem prática, sinaliza que não há uma solução única e milagrosa para desenvolver as várias regiões cobertas por florestas. A segunda, de conotação política, prega a criação de mecanismos para viabilizar novas idéias capazes de alavancar o progresso econômico baseado no desenvolvimento humano. Em todas, vale a orientação de aliar o conhecimento tradicional dos povos nativos aos avanços científicos.
Mesmo em questões pontuais, como a transposição do rio São Francisco para equacionar a seca no Nordeste, a orientação é considerar os múltiplos aspectos. “Não se trata apenas de uma decisão técnica”, resume a senadora Marina Silva, uma das autoras do programa ambiental do PT, sem dizer sim nem não à proposta. “Qualquer ação que não seja acompanhada de obras sociais, ambientais e locais não vai ter o sucesso necessário”, explica. A recuperação da bacia do Velho Chico e sua despoluição, aliás, são obras prioritárias no programa de revitalização dos rios.
Para amparar suas decisões, o novo governo deve acelerar a conclusão dos projetos de zoneamento ecológico e econômico nos rincões mais distantes do País. Esse mapeamento dos recursos naturais e das oportunidades econômicas deve servir como indicador para planejar os investimentos em cada região.
A recomendação é se adaptar ao ritmo da natureza, e não o contrário. Isso vale tanto para a seca nordestina quanto para a Amazônia. Na prática, significa incluir múltiplas alternativas econômicas numa mesma área. Além da madeira, da soja e da pecuária, por exemplo, a economia amazônica poderia aliar atividades extrativistas praticadas milenarmente pelos nativos e secularmente pelos seringueiros aos métodos mais avançados da ciência, entre os quais a biotecnologia.
O argumento é sólido. Apesar do ritmo frenético de desmatamento, que devastou uma área do tamanho da França e da Bélgica, a agricultura na Amazônia não é nenhum modelo: responde por menos de 4% da área plantada e menos de 3% da produção de grãos do País. Dado surpreendente, quando se sabe que a diversidade biológica das matas representa um patrimônio de US$ 4 trilhões, cerca de oito vezes o PIB brasileiro.