Em 1975, três anos depois de iniciar seu programa nuclear, o governo do Paquistão contratou o cientista Abdul Qadeer Khan, treinado na então Alemanha Ocidental, que trazia na mala segredos sobre o enriquecimento de urânio, adquiridos nas usinas da Holanda e essenciais para a produção da bomba atômica. Ele se tornaria o pai da bomba atômica paquistanesa. Em 1998, quando o Paquistão explodiu seu primeiro artefato, Khan admitiu que, nas décadas de 80 e 90, o país manteve seu programa nuclear visando à construção da bomba atômica, ao contrário do que pensava ou alegava o governo dos EUA, aliado do Paquistão. Quatro anos depois, no domingo 1º, o consagrado cientista fez outra confissão, dessa vez muito mais bombástica: a de que, entre 1988 e 2000, ele transferiu tecnologia nuclear a países como Irã, Líbia e Coréia do Norte – inimigos figadais dos americanos. O cientista assumiu toda a culpa e isentou o governo. “Eu assumo a total responsabilidade e peço o seu perdão”, disse Khan ao presidente paquistanês, o general Pervez Musharref. O perdão foi aceito, mas só depois de o cientista ter assinado um acordo com o governo.
A equação do acordo é bastante simples. O dr. Khan assumiu o prejuízo sozinho, salvou a pele dos militares, e o governo, por sua parte, comprometeu-se a não processá-lo.

Depois de três décadas à frente do mais importante centro de pesquisa nuclear do país que leva seu nome, Laboratório de Pesquisas Khan, o pesquisador tornou-se a própria bomba, guardando inúmeros segredos de Estado. Entre eles estariam as transferências de material nuclear às outras nações. “Os detalhes de como essa alta tecnologia foi transferida estão guardados a sete chaves pelo governo paquistanês”, afirmou Andy Oppenheimer, analista do respeitado grupo Jane’s Defence. Para os especialistas, é impossível que tecnologia nuclear tenha saído do Paquistão sem a aprovação dos militares, que controlam o programa nuclear desde sua concepção, na década de 70.