A já proverbial habilidade do presidente Lula nas artes da negociação está sendo colocada à prova. No colo do presidente, uma crise interna – anunciada é bom lembrar – envolve membros de facções que, fizessem parte de governos passados, seriam chamados de desenvolvimentistas e ortodoxos ou monetaristas, e foi deflagrada pela divulgação da ata do Copom, o Comitê de Política Monetária, que decidiu manter os juros nos patamares ainda estratosféricos nos quais se encontram. A decisão de manutenção das taxas com a consequente divulgação da ata explicativa, considerada dúbia, mergulhou os mercados em ebulição durante duas semanas e obrigou o ministro Palocci a passar a mão no extintor de incêndio e a convocar a mídia durante a semana passada. A inquietação foi turbinada a distância pela sinalização, vinda do Federal Reserve, de aumento dos juros americanos. Isso desviaria o rumo dos capitais, que hoje aportam nos países emergentes, para os Estados Unidos. Também foi de lá, mais precisamente de Wall Street, que decolaram, na quarta-feira 4, os boatos sobre a demissão do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O ataque causou poucos danos, mas demonstrou que o inimigo está atento.

O presidente terá de ser muito hábil. Ele sabe que não poderá desautorizar seu fiel escudeiro, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Mas também sabe que terá de enquadrar o Banco Central, pois outra derrapada do Copom não será nada bem-vinda. E terá de fazer isso discretamente, sem que sejam feitas – principalmente pelos mercados – leituras apressadas e danosas para o crescimento do País. Por outro lado, Lula está e continuará tendo todos os cuidados em preservar a importância, a imagem e a força de outro fiel escudeiro, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, chefe de Meirelles. Até porque Palocci não gosta de ser chamado de ortodoxo. Nem de monetarista.