A uma semana do segundo turno, os ânimos entre os candidatos, antes controlados, agora começam a se acirrar. O chamado bom nível e o clima respeitoso, que prevaleceram no primeiro round da disputa, cedem lugar a acusações mais ríspidas e diretas – o que é perfeitamente aceitável –, a apelações ao terrorismo e a tentativas de patrulhamento de opiniões e atitudes etílicas – o que não é. Para aumentar ainda mais a temperatura, circulam veladas e espúrias ameaças de divulgação de hipotéticas fitas, dossiês e reportagens demolidoras. As pesquisas, até o momento, não foram atingidas pelo efeito da deterioração do clima. ISTOÉ publica com exclusividade, nesta edição, o trabalho de campo realizado pela CNT/Sensus. E a situação permanece praticamente inalterada, registrando, para Luiz Inácio Lula da Silva, 59,3% das preferências do eleitorado e, para José Serra, 30,8%. A pesquisa já registra o efeito dos dois primeiros dias de propaganda eleitoral no rádio e na tevê.

O clima de rivalidade transcende os candidatos e seus partidos e toma conta das discussões em balcões de bares, mesas de restaurantes, salas de aula, escritórios e residências, num país dividido entre lulistas e serristas. Portar uma estrela petista em uma classe de serristas ou um adesivo tucano em uma sala de aula lulista tem se tornado situação corriqueira. Corriqueira, mas potencialmente conflituosa. Na reportagem de capa desta edição, há boas dicas para os pais lidarem com as dificuldades que seus filhos enfrentam no dia-a-dia. São preciosos ensinamentos de como conviver com as desigualdades. Sem terror, sem patrulha e respeitando diferenças. Na vitória ou na derrota. E são boas lições também para os adultos. Sejam eles cidadãos comuns, sejam candidatos à Presidência da República ou seus assessores. Bom proveito.

Hélio Campos Mello, Diretor de Redação