O atacante Vieri pediu silêncio aos mais de 40 mil sul-coreanos que lotavam o estádio de Djeouju, na noite de terça-feira 18, após colocar a Itália na frente com um gol de cabeça no jogo das oitavas-de-final. Os donos da casa desobedeceram, gritaram muito e foram recompensados. Aos 43 minutos do segundo tempo, os “Diabos Vermelhos” empataram e levaram a decisão para a prorrogação. A três minutos do fim do tempo extra, Ahn Jung-Hwan, que havia perdido um pênalti, fez o “gol de ouro” da classificação. Horas antes, o Japão, a outra sede do torneio, tinha sido eliminado ao perder por um a zero para a Turquia. Foi mais uma obra das bruxas que assolam esta Copa. Torcedores e cronistas davam como certa a vitória do entusiasmado time do Japão, apesar da maior tradição dos turcos.

Japoneses e coreanos são rivais históricos. Em 1905, o Japão invadiu a Coréia e, cinco anos depois, anexou o país. Só deixaram a região com a derrota na Segunda Guerra, quando o país foi dividido. Para os sul-coreanos, mandar a tricampeã Itália de volta para casa e ver o antigo algoz eliminado no mesmo dia foram motivos de alegria indescritível. Os japoneses sofreram e choraram, mas reconheceram que precisam evoluir e apoiaram os jogadores. Já os coreanos passaram a sonhar com o título. O técnico da seleção, o holandês Guus Hiddink, e Jung-Hwan viraram heróis nacionais. Uma pesquisa entre o público feminino elegeu o holandês “o homem ideal para casar”. Muitos querem conceder-lhe a cidadania sul-coreana. Nos estádios, é saudado com faixas como “Hiddink for presidente (para presidente)”, “We believe (Acreditamos em você)” e “Make our dream come true (Faça o nosso sonho se tornar realidade)”.

Jung-Hwan, que joga no Peruggia, despertou a fúria dos italianos. “Não tenho a menor intenção de pagar salário para alguém que arruinou nosso futebol. Quando esse maldito veio para a Itália, não tinha dinheiro nem sequer para pagar um panino (um tipo de sanduíche). Ele que volte à Coréia do Sul para receber aquela miséria mensal de US$ 50 que ganhava”, disse o presidente do Peruggia, Luciano Gaucci, ao anunciar a demissão do jogador. A eliminação italiana causou distúrbios em Roma, onde coreanos foram agredidos, e na Austrália. A editora Panini, uma das maiores da Europa, retirou dois milhões de figurinhas do mercado. O governo italiano prometeu limitar o número de jogadores estrangeiros no país. A tevê italiana (RAI) estuda como processar a Fifa por perdas e danos por causa das arbitragens. Os executivos temem por prejuízos e reclamam dos cinco gols italianos anulados em quatro jogos. Vieri pediu silêncio. Os sul-coreanos resolveram gritar e os italianos, chorar.