Mesmo investidores que nunca arriscaram seu dinheiro no mercado de ouro balançam diante da tentação: o metal, desde janeiro, acumula uma valorização de 29,30% (até 11 de junho), enquanto o dólar rendeu 14,91%, a poupança não passou de modestos 3,6% e os juros pelo CDI, a taxa básica que remunera por exemplo alguns fundos de investimento, renderam 7,8%. O preço do metal chegou a R$ 27,69 o grama na segunda semana de junho, preço que estava em R$ 21,50 no começo do ano. É um bom e um mau sinal. Bom pela rentabilidade proporcionada a quem investiu no metal e mau pelo fato de a valorização significar que as coisas não andam bem na economia. O ouro é considerado uma “reserva de valor” utilizada para proteger o patrimônio de quem o possui – o que o mercado financeiro chama de hedge – contra as incertezas da economia.

Incertezas que, na semana passada, voltaram a agitar o mercado financeiro. A quinta-feira 20 foi tenebrosa. O risco-país, que mede a desconfiança do investidor estrangeiro na capacidade do Brasil em honrar seus investimentos, atingiu o patamar mais elevado em três anos, com 1.595 pontos. Nesse patamar, o Brasil só é considerado mais confiável para investimentos do que a quebrada Argentina. O dólar disparou e fechou valendo R$ 2,77 (alta de 2,3% no dia), mesmo com novas intervenções do Banco Central. A Bolsa de Valores de São Paulo também sofreu com a crise de confiança e mergulhou 5,5% na quinta-feira, na maior queda do ano.

O estopim para a queda acentuada dos indicadores foi o anúncio do rebaixamento dos títulos brasileiros pela agência de classificação de risco Moody’s, que pegou um mercado já tenso e potencializou as perdas. O governo, como sempre, diz que não há razão para o nervosismo. Mas, horas depois, outra agência, a Fitch, seguiu o caminho de sua concorrente e também reduziu o grau de confiança no País.

Com o ouro na mão, pode subir o Lula, despencar o Serra, sumir do mapa eleitoral o Garotinho, que o valor do metal, ao contrário de outros ativos, não depende diretamente dos governos. Como quase tudo, a recente febre do ouro é uma febre americana, onde o dólar fraqueja, o déficit de conta corrente alcança US$ 421 bilhões, e a perspectiva de que a recuperação da economia americana, insinuada pelo forte crescimento (5,6%) no primeiro trimestre, não se realize até o final do ano. Some-se a isso a ameaça de uma guerra entre Índia e Paquistão, o risco de novos atentados nos Estados Unidos, a valorização do euro (7% em relação ao dólar neste ano) e tem-se a explicação sobre a valorização do ouro: à medida que o dólar perde em atratividade e confiança, o ouro, na contramão, se valoriza. No Brasil, por conta da crise política que levou à cassação do ex-presidente Fernando Collor em 1992, a Bolsa de Mercadorias & Futuros, a BM&F, negociou uma média diária de 9,71 toneladas do metal. No ano passado a média diária do volume negociado foi de apenas 48 quilos.

O ouro não é um investimento para quem faz economia na poupança. Tem custo alto: cada contrato negociado na BM&F custa em torno de R$ 6 mil, porque o mínimo para a compra é de 250 gramas. Analistas indicam a opção para quem quer diversificar seus investimentos, ainda assim comprometendo em ouro no máximo 20% do total. É um investimento tangível entre aspas, embora o Show do milhão passe a impressão do contrário. Em geral, quem compra ouro leva para casa uma declaração de posse – o
ouro que brilha fica com a BM&F, que cobra uma taxa de custódia de 0,07% ao mês. Quem faz questão de levar as barras para casa, leva, e corre o risco, que não é pequeno nos dias de hoje. No Brasil, onde começou a ser explorado comercialmente a partir de 1700, o ouro é comprado em bancos e corretoras.

A produção atual no País está em torno de 75 toneladas por ano. No mundo, a produção das minas alcança cerca de 2.200 toneladas e apresenta um crescimento médio de 4,3% ao ano. A diferença entre a oferta e a demanda é suprida pelas vendas dos Bancos Centrais. Recentemente, porém, esses bancos anunciaram que estariam interrompendo essas vendas por cinco anos, o que seria um explosivo combustível para o que os americanos vêm chamando de “gold fever”, ou a febre do ouro.

Medalha de ouro de olImpÍada tem 92 , 5 % de prata

• Quem vencer a Copa do Mundo vai levar um troféu com cinco quilos de ouro maciço de 18 quilates

• A taça do tricampeonato do Brasil na Copa do Mundo, a Jules Rimet, roubada na sede da CBF, tinha 1,8 quilo de ouro puro

• Na Antiguidade, as pessoas ingeriam ouro em pó acreditando que o metal tinha poder de cura, especialmente contra reumatismo e artrite n Com um grama de ouro pode-se fazer um fio de 35 quilômetros de comprimento; é assim que se produz a filigrana mais delicada

• O ouro puro tem 24 quilates, que é a medida da pureza do metal; 9 quilates é o conteúdo de ouro mais baixo

• A medalha de ouro das Olimpíadas tem 92,5% de prata; o ouro só entra na cobertura (mais ou menos 6 gramas)

• A Apolo 11, nave que pousou na Lua em junho de 1969, tinha sua base em ouro

• O continente mais rico em reservas minerais é a África, a região mais pobre do planeta

• Foi o rei Croesus, da Lídia (região da atual Turquia), quem primeiro cunhou, entre 643 AC e 630 AC, moedas de ouro com sua insígnia. A partir de então, o ouro adquiriu a utilidade de dinheiro, auxiliando os comerciantes na realização de seus negócios

• Desde a Antiquidade, dizem que ouro traz a sorte e a energia do Sol para que o homem as leve consigo aonde quer que vá; daí o velho costume existente entre povos de muitas nações de usar brincos, braceletes, colares e broches de ouro

• A fortuna pessoal da rainha Elizabeth II, de US$ 1,5 bilhão, é feita principalmente de jóias em ouro e pedras preciosíssimas, além de quadros e propriedades em todo o mundo