No século XII, uma mulher linda e inteligente chamada Joana era a rainha de Nápoles, na Itália. Mecenas de poetas e intelectuais, Joana se casou com um primo, Andrew, assassinado em uma conspiração, segundo as más línguas, com a participação da própria esposa. Furioso, Luís I, rei da Hungria e irmão de Andrew, invadiu Nápoles em 1348, obrigando a rainha a fugir para Avignon, no Sul da França. Um dia Joana resolveu regulamentar os bordéis da cidade francesa. Estabeleceu que essas casas de tolerância deveriam ter uma porta por onde todos pudessem entrar. Assim nasceu a expressão Paço da mãe Joana, que viajou para Portugal e chegou ao Brasil, onde a desconhecida palavra paço foi substituída por casa. Vem daí a popular expressão “casa da mãe Joana”, título do livro lançado pela editora Campus, recheado de palavras e expressões de origem desconhecida pela maioria da população.

O autor, o carioca Reinaldo Pimenta, 54 anos, advogado e professor de língua portuguesa, garimpa histórias há quatro anos em mais de 80 livros. Ele sacia a curiosidade nas 256 páginas de A casa da mãe Joana (R$ 29,90). “Meu objetivo era fazer um livro divertido”, diz. Quem já parou para pensar, por exemplo, no porquê da expressão “cheio de nove horas”? Essas palavras, que viraram adjetivo para descrever uma pessoa afetada, têm como origem o horário em que as pessoas deviam se recolher, no século XIX. O regulamento policial advertia que, depois das nove horas, ninguém estaria isento de ser apalpado e revistado. Daí surgiu a descrição para um sujeito cheio de regras.

E imagine: o brasileiríssimo doce brigadeiro tem a ver com a Segunda Guerra Mundial. Naquela época havia um grande racionamento de açúcar, leite e ovos. Até que uma senhora teve a idéia de misturar leite condensado a chocolate e descobriu a pólvora. Ou a gostosura. O nome foi uma homenagem ao brigadeiro Eduardo Gomes, candidato às eleições presidenciais em 1945. Até para a expressão “puxa-saco” existe uma explicação. O termo nasceu de uma gíria militar, definindo os ordenanças que de forma submissa carregavam os sacos de roupas de viagem dos oficiais. “O sentido se estendeu para a pessoa bajuladora”, diz o autor.

A maioria dessas expressões que viraram lugar comum tem origem no passado. O sujeito sovina passou a ser chamado de “pão-duro” por causa de um mendigo que existia no Rio no início do século passado. O pedinte, que solicitava qualquer coisa para comer, nem que fosse um pedaço de pão duro, constatou que a mendicância se tornara um prazer profissional. Quando morreu, descobriu-se que tinha contas em bancos e imóveis nos surbúrbios. O rico mendigo deu origem a uma comédia, escrita pelo teatrólogo Amaral Gurgel. Com “causos” bem-humorados, o livro não deixa de ser uma forma para se aprimorar a cultura.