Acordar tarde, não ter horários a cumprir, assistir àquele programa de tevê que nunca dá para ver. Divertir-se e divertir-se, sem pressa. Substituir o corre-corre diário por dias sem compromisso é tudo o que se quer nas férias. O desejo, antes próprio dos pais, se estende às crianças. Afinal, elas também compartilham a rotina desgastante da família. Mas nem sempre é possível combinar férias no trabalho com o recesso escolar dos filhos. O que fazer então para que os pimpolhos tenham diversão? Atividades circenses, teatrais, artísticas e esportivas são boas opções. Elas aperfeiçoam as habilidades motoras e ajudam os pequenos, e os nem tanto, a se sociabilizarem, a se expressarem melhor e a desenvolver o senso crítico e a percepção visual e auditiva. Ou seja, melhoram o desenvolvimento da criança brincando, literalmente. “Sob orientação correta, até dificuldades de aprendizagem podem ser resolvidas fora da sala de aula com muita alegria”, atesta a psicopedagoga Raquel Caruso, do Centro de Aprendizagem e Desenvolvimento (CAD), de São Paulo.

O foco deve estar no prazer que essas escolhas possam proporcionar. Foi exatamente o contentamento o fator decisivo para que a enfermeira Elisa Halker programasse um curso de artes plásticas para a filha de apenas cinco anos. É que, para a pequena Paula Halker Silva, os grandes pintores são também companheiros de traquinagens. A Escola Viva, onde estuda em São Paulo, prioriza o ensino da arte desde a pré-escola e mantém o Atelier Arte Expressão, que realiza cursos que vão da culinária ao malabarismo circense. Elisa conta que a menina nem ligou ao saber que não poderiam viajar em julho. “Ela disse: ‘Oba, então vou fazer o curso de férias.’ Acho bom porque ela vai conviver com meninos e meninas que não estudam na escola”, diz a mãe. Modelagem e pintura e até trabalhos artesanais mais simples são atividades que estimulam a percepção e a coordenação motora e trazem um ganho extra, principalmente para as crianças pequenas. Como se caracterizam por resultados rápidos, dão a percepção da própria capacidade de produção e isso é muito positivo para a auto-estima.

É indispensável ficar atento às características e ao gosto de cada um, lembrando que a criança tem um arsenal de habilidades a serem desenvolvidas, basta um estímulo certeiro. Sem esquecer, é claro, que as férias devem ser um momento de relaxamento. “As crianças não devem se sentir obrigadas a fazer nada, mas podem desenvolver talentos”, opina a psicóloga infantil Glaura Fernandes, do Grupo de Apoio à Infância e à Adolescência (Gaia), também de São Paulo. Para um garoto extremamente agitado, por exemplo, atividades esportivas ou de movimento, como dança ou capoeira, ajudam a “queimar” energia. No entanto, uma atividade musical ou de teatro pode auxiliá-lo a desenvolver a concentração e facilitar o contato com as emoções. No caso de Tibério Freitas de Menezes, que aos dez anos já é um apaixonado pela vida artística, inventar histórias, criar cenários e figurinos e encenar são atividades que acalmam. “Ele era briguento na escola. Hoje, ele se relaciona melhor e está bem mais à vontade”, conta sua mãe, a dona-de-casa Geralda. Tibério faz o curso anual no Teatro-Escola Célia Helena, de São Paulo, que oferece também um programa especial em julho. “O teatro é parceiro de todas as áreas: literatura, artes, dança. A criança ganha boa dicção e prontidão, aprende a argumentar e desenvolve o lado emocional. Na dramatização, os conflitos pessoais acabam sendo trabalhados”, explica a atriz Lígia Cortez, responsável pela escola.

Desafios – As férias são uma oportunidade para experimentar um mundo diferente. Ao viver em grandes centros urbanos, muitas crianças têm pouca ou nenhuma intimidade com animais próprios do campo. Neste caso, as hípicas podem ser uma grande descoberta para eles. O gostinho de conduzir um cavalo pode se transformar num reconhecimento importante de capacidade. Na Sociedade Hípica Brasileira, do Rio de Janeiro, por exemplo, crianças com idade acima de oito anos têm condições de iniciar no hipismo. As aulas propiciam a valorização da postura e da disciplina, trazem segurança e aumentam a coordenação motora. “A equitação exige não só disciplina, mas coragem. Num nível mais avançado, de competições, a criança também aprende a ganhar e a perder”, enfatiza a professora Isabel Guilhon. Uma outra alternativa que aos olhos de crianças e adultos tem ares de desafio é o circo-escola. Conhecer os segredos das acrobacias aéreas dos trapezistas ou saber como uma contorcionista consegue virar do avesso é um convite à curiosidade, sem contar o convívio com personagens que permeiam a infância. Em São Paulo, o Picadeiro Circo-Escola vem há 18 anos formando profissionais e iniciando crianças neste universo mágico. “Além do trabalho físico intenso, que propicia o desenvolvimento ósseo e muscular, a meninada até melhora na escola. A auto-estima aumenta e eles treinam a concentração”, informa o trapezista José Wilson Moura Leite, idealizador do projeto.

Para as crianças que querem mesmo muito movimento, ou precisam perder alguns quilinhos, as atividades aeróbicas são bem indicadas. A capoeira é uma alternativa que traz o conhecimento e a valorização de nossas raízes. No balanço de berimbaus, pandeiros, atabaques, agogôs e reco-recos, crianças e adolescentes de Fortaleza (CE) assimilam um pouco da ginga nacional. “A capoeira foi criada por africanos, mas nasceu aqui e é bem brasileira. Foi o meio de expressão de liberdade dos negros cativos”, explica Francisco Carlos Cavalcante, o mestre “Samurai”, da Companhia Terreiro do Brasil de Capoeira. A escola mantém cursos em mais cinco Estados (Distrito Federal, Tocantins, Maranhão, Goiânia, São Paulo) e três países (Portugal, México e Alemanha). Lá, os iniciantes não saboreiam apenas esse gostinho de liberdade. “Temos alunos de três a 60 anos. Eles relaxam o corpo e a mente, perdem a inibição e ganham elasticidade”, explica o Samurai cearense. Tiago Dutra Alves, 14 anos, além de aprender os golpes, comemora outros ganhos. “Fiquei mais tranquilo em casa e na escola. E até arrumei uma namorada”, conta o garoto. Esperto, ele já conseguiu levar a boa ginga também para a conturbada vida adolescente.

Colaboraram: Ariadne Araújo (CE), Vivian Lemos (RJ)

Serviço:
Atelier Arte Expressão (SP) – (00xx11) 3842-6927 – R$ 206, 5 dias (3h30/dia)
CAD – (00xx11) 3816-8247 – oficinas de teatro, artes e música, R$ 50 cada (4 h.)
Companhia Terreiro do Brasil www.cia.terreirocjb.net (00xx85) 298-4761 –
R$ 25/mês (2 aulas/sem.)
Picadeiro Circo-Escola (SP) www.picadeirocirco.com.br (00xx11) 3078-0944 –
R$ 120/mês (2 aulas/sem.)
Sociedade Hípica Paulista (SP) (00xx11) 5506-0611 R$ 261/mês (2 aulas/sem.)
Sociedade Hípica Brasileira (RJ) (00xx21) 2527-8090 – matrícula,
R$ 50 + R$ 200/mês (2 aulas/sem.)
Teatro-Escola Célia Helena (SP) (00xx11) 3884-8214 R$ 150 (4 dias/3 horas/dia)