26/06/2002 - 10:00
Não dê importância para a capa de Gold,
que estampa o cantor e compositor Ryan Adams, 26 anos, exibindo o clichê do clichê americano ao vestir jeans surrado, camisa de rugby e ter a bandeira de seu país ao fundo. Nem se deixe enganar pela semelhança de seu nome com o do intragável Bryan Adams, autor de Have you ever really loved a woman? Anunciado como o novo Bruce Sprinsgteen –
os mais entusiastas costumam compará-lo ao jovem Bob Dylan –, no seu segundo trabalho solo Ryan Adams se confirma como uma das grandes revelações surgidas em anos no cenário do rock americano.
Para se ter uma idéia de seu talento, ele consegue soar ao mesmo tempo como um emocionado Neil Young na balada folk Harder now that it’s over e mais adiante evocar os endiabrados Rolling Stones em Tina Toledo’s street walkin’ blues. Emular a sensualidade do ex-led zeppelin Robert Plant na enérgica Gonna make you love me e o lirismo de Elton John na levada soul de The rescue blues. Mas atenção: estas influências não indicam crise de identidade. São o resultado de uma sólida formação pop.
Natural da Carolina do Norte, ex-namorado de Winona Ryder, Adams é um dos expoentes do chamado alt-country, ritmo que recupera o vigor do rock caipira dos anos 60 – ele, inclusive, participou de uma banda cult do gênero, a Whiskeytown. Ryan Adams costuma gravar em Nashville, usa e abusa de slide guitar, gaitas, banjos, órgãos Hammond e tem entre seus colaboradores o baixista Chris Stills, filho de Stephen Stills, do extinto grupo Crosby, Stills, Nash & Young. O cantor, no entanto, recusa o rótulo da moda. “Não sei descrever este álbum, que traz diferentes facetas musicais, coisas da Motown, algo de Nina Simone, Faces, Stones, muito das raízes sonoras dos anos 60 e 70, além do sentimento de Van Morrison”, afirma ele a propósito das 16 ótimas canções de Gold. Na falta de uma classificação apropriada, chame-as apenas de boa música.