Um entrevista à Rádio Capital, na terça-feira 8, Aloizio Mercadante ouviu de uma eleitora, ao vivo, por telefone: “Eu votei no senhor, no Serra e no José Aníbal.” Ele riu, timidamente. Vai entender o que se passa na cabeça do eleitor: Mercadante era o único petista escolhido pela ouvinte naquele time de tucanos. Foram votos sem coloração partidária como este que resultaram num verdadeiro fenômeno: quase 10,5 milhões votos em São Paulo, ou 29,9% dos válidos, um recorde na história da disputa para o Senado. Ele somou 300 mil a mais que Ciro Gomes (PPS) teve em âmbito nacional, ficando atrás apenas de Lula, Serra e Garotinho. Durante um ano de marcha pelo Estado em campanha, Mercadante percebia nas ruas que sua popularidade aumentava a cada dia, mas nem ele nem ninguéme tampouco os institutos de pesquisa conseguiram prever o que aconteceria. O senador reeleito Romeu Tuma (PFL), que ficou em segundo lugar, obteve mais de 7,2 milhões de votos, ou 20,7% dos votos válidos. Até esta eleição, a maior votação para o Senado pertencia a Mário Covas, dono de 7,7 milhões em 1986.

Pego de surpresa e ainda atordoado com o recorde, o deputado diz  ter mudado de planos, em caso de vitória de Lula no segundo turno: “Agora não posso simplesmente tomar posse e virar ministro. Vou ter que conversar com a direção do partido”, diz ele, que estava cotado para ocupar uma pasta na área econômica. “Bem que eu achava esquisito os números das pesquisas. Não batia com o que eu via e sentia nas ruas”, afirma Mercadante, sem saber explicar de onde saíram tantos votos: “Esta campanha para o Senado foi ofuscada pela presidencial. E eu nunca ocupei cargo executivo, fiquei quatro anos sem mandato. Tive 52 segundos de tempo na tevê e todos os outros apareciam mais que eu.” Mas avalia que a popularidade de Lula foi fator fundamental para o arrastão nas urnas: “O PT cresceu em todo o País.”

Em seu segundo mandato na Câmara, orgulha-se de nunca ter faltado a uma votação em plenário por motivos pessoais, “apenas por estar em missões do Congresso no Exterior”. Não é a primeira vez que é considerado um dos dez parlamentares mais influentes do Congresso, segundo o levantamento de 2002 realizado pelo Diap. O mesmo ranking destaca Mercadante “pelo seu conhecimento técnico, capacidade de articulação e negociação”, qualidades que ele precisará usar no Senado, num eventual governo Lula. O PT aumentou de oito para 14 o número de cadeiras na Casa, de um total de 81. Mesmo assim, Mercadante acha pouco para quem quer ser governo. Se recusar, de fato, uma vaga no Executivo, ele certamente será destaque na missão de articular e negociar. “Todas as reformas passam pelo Legislativo e vou precisar dar meu apoio. Minha tarefa é de alta responsabilidade para dar sustentabilidade ao Lula.”

Filho de um general do Exército e de uma professora de ioga, nascido em Santos, no litoral paulista, e morador da Vila Madalena, na capital, Mercadante, 48 anos, também gosta de ser chamado de “o economista do PT” e é um santista fanático. O início da vida política se deu no centro acadêmico da Faculdade de Economia e Administração da USP, em meados dos anos 70. De lá, já professor, se engajou na luta sindical. Ajudou a fundar a CUT e a Associação Nacional dos Professores Universitários (Andes), da qual foi vice-presidente. Tornou-se assessor econômico do PT e de Lula desde a primeira eleição à qual o partido concorreu, em 1982. Eleito deputado em 1990, foi candidato a vice na chapa de Lula em 1994 e de Luiza Erundina em 1996, para a prefeitura paulistana. Em agosto deste ano, recebeu da Ordem dos Economistas de São Paulo o prêmio Economista do Ano, que já pertenceu ao presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Em 2002, Mercadante ganhou também o status de “padrinho” da Escola de Samba A Primeira da Aclimação, que visitou durante a campanha. Agora, motivos não faltam para sair sambando pela vitória.